De motivo de chacota a fenômeno do arrocha, Aldiran conta a história do Unha Pintada

01/02/2023 11:34 • 5m de leitura

Nascido no Povoado Barroca, zona rural do município de Simão Dias, em Aracajú (SE), Aldiran nunca imaginou que sua atitude de pintar as unhas ia no futuro se tornar o nome de uma das maiores bandas de arrocha do Nordeste. Se hoje a manicure masculina ainda é uma polêmica na sociedade, no interior do estado de Sergipe, anos atrás, Aldiran lembra do espanto de quem o encontrava, mas diz que sempre lidou bem com as reações. Em entrevista ao Bahia Notícias, o cantor também revelou sobre o difícil momento que viveu quando precisou realizar uma hemodiálise em 2021 devido a problemas renais e precisou cancelar os shows no São João de 2022. Aldiran também revelou os bastidores do projeto “Unha Prime”, que reúne artistas do arrocha de todo território nacional. Confira: Você sempre comenta sobre a origem do nome da banda. Neste ano, muitos artistas foram alvo de críticas por usar a unha pintada e você já usa as suas há muitos anos. Como foi para você naquela época? 

Foto: Divulgação

Tenho toda certeza que o Unha Pintada é um projeto de Deus. Antes mesmo de fundar [a banda], na época do colégio eu já pintava as unhas. Nunca consigo decorar se era Cristian ou era Ralf. Era um dos dois que pintava a unha do dedo mindinho. E eu resolvi extravasar, extrapolar, pintar tudo. Pintava até as unhas dos pés. 

E qual foi a reação dos colegas?

No colégio foi motivo de chacota. Já era conhecido na roça como “Doidinho”.  Depois resolvi cantar, começar um projeto. Cantava no grupo dos outros e tentava bolar um nome para montar o meu próprio grupo. Só que no colégio eu já era conhecido como unha pintada, todo mundo esqueceu meu nome de batismo, que é Aldiran. [Pensei] “Eu vou cantar para os meus amigos, então eu vou deixar como eu sou mais conhecido”. No início foi muita curiosidade, muita chacota, muito preconceito. Mas graças a Deus foi devido a essa curiosidade que gerou perante a comunidade, perante a minha cidade, que eu fui ficando conhecido.

Qual foi a sua reação ao perceber que os homens que vão para os seus shows pintam as unhas?

“Essa loucura, esse algo bizarro se tornou popular. Todo mundo que ia para o show de Unha Pintada queria se parecer comigo, deixava uma barbinha, colocava um boné… antes eu usava chapéu e bota de vaqueiro e a galera também ia caracterizada e a onda da unha pintada foi pegando. E eu fico muito alegre que isso foi se popularizando e hoje, graças a Deus, é praticamente normal um homem com a unha pintada. 

Foto: Divulgação

Quando você percebeu que o Unha Pintada era um sucesso?

E se eu te disser que ainda não percebi? A galera pede pra eu cantar, eu coloco no repertório e aí galera adere a minha interpretação. Tem algumas músicas do próprio Luan Santana que eu interpreto, que a galera pensa que a música é minha e o CD pipoca, estoura. E eu fico muito feliz com esse carinho do público.

Como funciona esse contato com os artistas para regravar as músicas? 

Geralmente quando eu gravo as músicas eu sempre procuro falar o nome dos donos. “Sucesso de fulano de tal”, eu sempre procuro dizer de quem é. Porque geralmente gera um pouco de ciúme em determinada região se a música chegar na minha voz, o artista dono da música vai sentir um pouco enciumado. Aí é necessário que fale. Também ter essa parceria com outros artistas para que a gente possa se fortalecer cada vez mais. 

Você passou por um período muito complicado esse ano, entre abril e junho, e precisou até cancelar alguns shows no período junino. O que aconteceu?

Eu peguei uma jornada de shows muito grande e peguei algumas regiões da Bahia aqui frias pra caramba, principalmente na divisa de Minas. Peguei uma gripe muito forte e fui insistindo nessa gripe e cumprindo os shows. Mas chega uma hora que o físico não aguenta. Eu fiquei bem ruim mesmo, muita dor de cabeça, tava tossindo muito, a garganta já tava praticamente retalhada e eu tive que cancelar alguns shows pra poder recuperar um pouco. 

Algumas pessoas se preocuparam por causa do susto com o problema renal do ano passado. Então não teve relação?

Foi só uma gripe, eu estava tossindo muito e a garganta inflamou. Como cantor trabalha com a garganta, o meu instrumento de trabalho estava defasado. Eu tive que cancelar alguns shows para poder retornar na semana seguinte. 

Falando sobre o Unha Prime, como surgiu a ideia de fazer uma festa que reúne apenas artistas de arrocha? 

Na verdade, a gente procura fortalecer o estilo. Acho que isso deveria ser uma prioridade de quem faz o estilo do arrocha. Eu sou sergipano, mas o arrocha é da Bahia, surgiu aqui, tudo começou aqui. Então eu procuro sempre em minhas parcerias estar fortalecendo o estilo para que a gente possa abranger o Brasil inteiro, popularizar ainda mais. Muita gente ainda precisa conhecer e reconhecer o ritmo arrocha. Então eu procuro fortalecer isso. Seja nos eventos, seja nas entrevistas, mas sempre fortalecer o estilo. Eu canto a arrocha, eu sou arrocheiro!

*Bahia Notícias

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