As chuvas que voltaram a cair no fim de semana tanto em Porto Alegre quanto na região de planalto no interior do Rio Grande do Sul provocaram uma subida do nível da água do lago Guaíba, que passou de 5 metros -qualquer valor acima de 3 metros é considerado inundação. A enchente começou no último dia 3. Com isso, a tendência é que novas enchentes atinjam a capital gaúcha nesta terça (14). Com esse novo pico, a situação tende a ser mais grave do que em 1941, quando a cidade ficou inundada por 32 dias. O nível das águas chegou a baixar nos últimos dias da semana passada, mas voltou a encher com as novas chuvas. O professor Rualdo Menegat, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que é difícil prever quanto tempo a região metropolitana deve permanecer debaixo d’água. Com as novas chuvas, novas áreas passaram a enfrentar alagamentos. “O quadro de cheias ainda está em andamento e não há sinal de que será revertido nos próximos dias”, diz. Menegat explica que, além das chuvas no continente, a situação do oceano Atlântico na região também prejudica o escoamento da água. “Os ventos estão soprando no sentido sul-norte e do mar para o continente, o que aumenta o nível da lagoa dos Patos e, consequentemente, do lago Guaíba”, explica. O Guaíba fica a norte da lagoa. Além dos ventos contrários ao escoamento, a maré permanece alta por conta de tempestades e ciclones em região oceânica, que impactam na faixa litorânea. “Um ciclone extratropical elevou as ondas para até três metros de altura no litoral gaúcho”, explica. Porto Alegre está no nível do mar, o que dificulta o escoamento, ainda mais quando a maré está alta. Por outro lado, fica encostado no Planalto Meridional. A capital gaúcha está nas margens do Guaíba, onde desembocam os principais rios que nascem no interior do estado, na área de planalto. Os rios Jacuí, Taquari/Antas, Sinos, Caí e Gravataí voltaram a receber chuvas ao longo de seus leitos, o que ajudou a aumentar o nível do lago. O Guaíba desemboca na lagoa dos Patos, que tem apenas um ponto de vazão: uma pequena boca para o Atlântico no na região de Rio Grande. O avanço da água também deve provocar erosão e risco de danos na cidade, por conta do volume e velocidade de deslocamento. Para isso acontecer, no entanto, é preciso que a maré baixe. O professor afirma que o fenômeno de 1941 teve apenas um pico, diferentemente do que está acontecendo agora. “Como o fenômeno está em andamento, há risco de novos picos antes de um escoamento mais acelerado”, diz. Professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, Rodrigo Paiva afirma que existe o risco de um novo pico por conta de previsões de chuvas no próximo fim de semana. A situação pode retardar ainda mais o processo de escoamento das águas. Ele explica que as chuvas do último fim de semana impactaram no quadro atual e o nível da água do Guaíba deve se elevar pelo menos até esta segunda. Para Paiva, a situação reforça as recomendações para que as pessoas não voltem ainda para áreas de alagamento, porque a água ainda não parou de subir. Outra preocupação crescente é com as encostas, cada vez mais perigosas por conta do solo encharcado. Ele aponta que a melhora deve ser gradual passada a fase mais crítica. “Com quatro metros de nível das águas, uma parte que está alagada não estará mais. Com 3,5, outra área ficará livre. E por aí vai”, diz. Para Paiva, o principal problema, mais do que a situação das marés, é a própria quantidade de chuva nos rios do planalto. A situação mais grave no momento é no rio Jacuí. Menegat também aponta diferentes fases na recuperação da cidade. “Passado o momento do socorro, teremos um de retorno para as casas e de recuperação das funções mínimas da cidade”, afirma. A recuperação e reconstrução da cidade viriam depois. Paiva e Menegat apontam para o risco de tentativas de soluções mirabolantes. Ambos apontam como exemplo de proposta negativa a ideia de criação de um canal para acelerar o escoamento da água. “Existe uma grande possibilidade de não ser efetivo”, diz Paiva.