Seca em Araci: Desafios e esperanças em meio à adversidade e labuta do sertanejo

01/11/2023 03:22 • 5m de leitura

O semiárido da Bahia enfrenta atualmente uma das secas mais severas dos últimos anos, trazendo consigo desafios consideráveis para a população local. As persistentes condições climáticas adversas têm gerado uma série de impactos, afetando não apenas o abastecimento de água, mas também a vida cotidiana das comunidades que dependem da agricultura e da pecuária.

Sertanejo se esforça para libertar a ovelha que ficou presa na lama seca do tanque | Foto: Arquivo Pessoal

É o caso do município de Araci, na região sisaleira da Bahia que decretou situação de emergência por causa da estiagem no município. Com a seca castigando a cada dia que passa, aumenta ainda mais a dificuldade para manter o rebanho de animais.

À esquerda, Jivanilson Silva agricultor e Presidente da Associação do Assentamento Vale do Itapicuru

Em uma entrevista exclusiva concedida ao portal Voz do Campo, Jivanilson Silva, agricultor e Presidente da Associação do Assentamento Vale do Itapicuru, situado a 40 km da sede de Araci, compartilhou informações alarmantes sobre os impactos devastadores da prolongada estiagem na região. Ele enfatizou que a seca tem gerado sérios prejuízos aos agricultores, com destaque para as perdas significativas no rebanho, cujo valor atual é incalculável.

Alta taxa de mortalidade entre os animais devido a estiagem | Foto: Arquivo Pessoal

“Anteriormente, em nosso Assentamento, mantínhamos um rebanho diversificado, composto caprinos e ovinos, totalizando cerca de 4 mil animais. No entanto, devido aos efeitos implacáveis da seca, esse número tem declinado de forma alarmante. Estamos testemunhando uma alta taxa de mortalidade entre os animais, e muitos agricultores estão sendo forçados a tomar a dolorosa decisão de vender todo o rebanho, com a esperança de recomeçar do zero quando as condições climáticas se tornarem mais favoráveis. Atualmente, nosso rebanho não chega a 800 animais”, explicou Jivanilson que tem formação técnica em agropecuária e agricultura resiliente ao clima.

Assentados durante reunião da Associação | Fotos: Arquivo Pessoal

Além da escassez de alimentos para os animais, os criadores enfrentam uma séria crise de abastecimento de água na região. “A situação das aguadas atualmente é alarmante, das 84 barragens do assentamento, apenas 4 delas contam com uma quantidade mínima de água, que é insuficiente tanto para suprir as necessidades do rebanho quanto para uso doméstico. A escassez de água representa um desafio significativo para nossa comunidade, uma vez que a demanda por água só tem aumentado a cada dia que passa. Infelizmente, a maioria dos moradores não possui recursos para arcar com os custos de um carro-pipa que forneça água potável, com valores que chegam a ultrapassar os 200 reais para o abastecimento no assentamento,” contou o presidente da Associação.

Carro-pipa que fornece água potável, com valores que chegam a ultrapassar os R$ 200 para o abastecimento no assentamento

O secretário de Agricultura de Araci, Edcarlos Pastor falou com o portal Voz do Campo, as principais medidas que a pasta está adotando para amenizar o sofrimento dos agricultores e população afetada pela estiagem. “A prefeitura, em parceria com a Defesa Civil e sob a coordenação da Secretaria de Agricultura, tem efetuado o abastecimento de água para consumo humano e animal por meio de caminhões-pipa. Essas ações são financiadas com recursos do município e contam com o apoio essencial do Exército e da Defesa Civil. Foi iniciada também a criação de pontos de coleta de água da Embasa em locais estratégicos, a fim de facilitar o acesso à água em áreas desprovidas de abastecimento regular. Atualmente, esses ‘Bicos de Água’ já estão disponíveis em Araci e nas comunidades de Nazaré, Tapuio, Resina e João Vieira, e já solicitamos à Embasa a abertura de novos pontos em Barbosa e Duas Estradas,” explicou Edcarlos.

À esquerda, secretário de Agricultura de Araci, Edcarlos Pastor em visita a comunidades rurais | Foto: Arquivo Pessoal

Segundo ele, está ocorrendo a expansão da rede de água do Araci Norte em áreas desprovidas de abastecimento. “Essa iniciativa, realizada em parceria com a Embasa, concentra-se na zona rural, tendo em vista que o Projeto Araci Norte ainda não foi totalmente implementado no município,” disse o secretário, enfatizando também a manutenção constante de poços artesianos nas comunidades rurais.

Outro ponto que Pastor destacou foi a parceria com o Projeto Mãos Unidas. “A Secretaria de Agricultura e a Secretaria de Infraestrutura, em cooperação com o projeto ‘Mãos Unidas’, estão promovendo mutirões de limpeza das aguadas públicas em diversas comunidades rurais. A exemplo de Rufino, Retirada, João Vieira e o Assentamento Vale do Itapicuru. As barragens públicas desempenham um papel crucial no fornecimento de água tanto para o gado quanto para uso humano. Além disso temos incentivado os produtores rurais e criadores, custeando o frete de ração animal, como o milho, a fim de reduzir os custos dos produtos e facilitar a aquisição a um valor mais acessível de mercado,” finalizou o secretário.

Opinião Voz do Campo
A seca em Araci e todo o sertão baiano, não é apenas um obstáculo, mas também uma oportunidade para inovar e encontrar soluções sustentáveis que beneficiem a comunidade a longo prazo. A perseverança dos sertanejos e o apoio das autoridades são o alicerce disso. É necessário que os Governos implementem estratégias abrangentes, para enfrentar os desafios da seca de maneira mais eficaz.

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