No dia 10 de setembro – Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, destaca-se que a saúde dos (as) professores (as) não vai bem no Brasil. É o que aponta o livro Seminários Trabalho e Saúde dos Professores. Precarização, Adoecimento e caminhos para a Mudança, lançado pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro). O livro foi lançado durante o IV Seminário: Trabalho e Saúde dos Professores – Precarização, Adoecimento e Caminhos para a Mudança. Durante o seminário, os pesquisadores apontaram que, seja na rede pública ou na rede privada, os (as) professores (a) sofrem de um mesmo conjunto de males ou doenças, em que há predomínio dos distúrbios mentais tais como síndrome de burnout, estresse e depressão. Depois deles aparecem os distúrbios de voz e os distúrbios osteomusculares (lesões nos músculos, tendões ou articulações). “Os estudos têm mostrado que as principais necessidades de afastamento para tratamento de saúde dos professores são os transtornos mentais. Quando olhávamos esses estudos há cinco anos, eles apontavam prevalência maior de adoecimento vocal. Mas isso está mudando. Hoje os transtornos mentais já têm assumido a primeira posição em causa de afastamento de professores das salas de aula”, disse Jefferson Peixoto da Silva, tecnologista da Fundacentro. Para o coordenador-geral da APLB-Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia, Rui Oliveira, no mês do Setembro Amarelo, que é dedicado à conscientização sobre a saúde mental, é fundamental que coloquemos em foco uma questão urgente: a saúde mental dos professores e professoras. “De acordo com a pesquisa recente, esse tem sido o principal problema enfrentado por nossos profissionais da educação. A pressão constante, as condições de trabalho e a falta de suporte adequado têm causado um impacto significativo no bem-estar emocional dos educadores e educadoras. É de suma importância que o poder público e a sociedade reconheçam essa realidade e promovam medidas efetivas para garantir um ambiente mais saudável e sustentável para aqueles que estão na linha de frente da formação das futuras gerações. Precisamos de mais apoio, mais recursos e, acima de tudo, mais compreensão e empatia para enfrentar esse desafio.”, destacou Rui. Segundo Frida Fischer, professora do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), entre os principais problemas enfrentados por docentes no trabalho está a perda de voz, a perda auditiva, os distúrbios osteomusculares e, mais recentemente, as doenças mentais. “Essas são as principais causas de afastamento dos professores”, disse, em entrevista coletiva. Uma pesquisa realizada e divulgada recentemente pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) já havia apontado que muitos professores estão enfrentando problemas relacionados à saúde mental e que isso pode ter se agravado com a pandemia do novo coronavírus.
Para Rinaldo Voltolini, professor da Faculdade de Educação (FE) da USP, ao analisar as possíveis causas desse fenômeno, é preciso levar em conta, pelo menos, duas ordens de fatores. A primeira, de ordem quantitativa, diz respeito ao excesso de trabalho dos docentes. “Sabemos que os professores, em geral, lidam com grandes cargas de trabalho, às vezes divididas em duas, três escolas, para as quais eles têm que – inclusive – se deslocar”, explica. O professor acredita que esse cenário gera um estresse, que pode acarretar no desenvolvimento de questões mentais. O outro fator, de ordem qualitativa, diz respeito à falta de realização desses docentes. “A profissão não é apenas um lugar de recebimento e remuneração, mas também é um lugar em que se busca a realização. E os professores em geral são profissionais que buscam também na sua relação com o trabalho uma realização”, exemplifica Voltolini. Por conta das condições gerais de ensino, essa satisfação está cada vez mais difícil de ser alcançada. Segundo Voltolini, atualmente, em grande parte das profissões, a maior quantidade das queixas apresentadas pelos trabalhadores estão relacionadas à saúde mental. Dessa forma, o adoecimento evidenciado pelo livro desenvolvido pela instituição Fundacentro segue a tendência geral. O professor acredita que o aumento dos pedidos de licença psiquiátrica para afastamento do trabalho se deve a dois fatores. O primeiro está relacionado ao aumento do discurso psiquiátrico, que é repercutido cada vez mais, e com isso os indivíduos buscam mais ajuda profissional. Outro fator pontuado por Voltolini diz respeito ao aumento da pressão geral, que causa um adoecimento mais mental do que físico. “Essa pressão tem a ver com exigência de desempenho, exigências de resultados que em geral levam a um estresse psíquico maior. Isso faz com que as queixas e assim como, em última instância, as licenças médicas sejam mais motivadas por razões mentais”, exemplifica.
APLB Sindicato*