RJ e SP monitoram passageiros de voos com casos de varíola dos macacos

20/06/2022 06:06 • 6m de leitura

Rio de Janeiro e São Paulo têm monitorado o estado de saúde dos passageiros que estavam em voos nos quais foram identificados casos de varíola dos macacos. O procedimento tem sido feito pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, segundo as assessorias de imprensa dos órgãos. O Brasil já registrou sete casos da doença. O último deles foi confirmado pelo Ministério da Saúde nesta sexta-feira (17). Dos sete casos confirmados no país, quatro são de São Paulo, dois do Rio Grande do Sul e um do Rio de Janeiro. Outros nove casos estão sendo investigados. O primeiro caso do Brasil foi registrado em 8 de junho. Na capital fluminense, a Secretaria Municipal de Saúde diz que está iniciando um levantamento dos passageiros que estavam no mesmo voo do paciente com caso confirmado de varíola dos macacos. Os dados dos viajantes foram fornecidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O primeiro caso de varíola dos macacos no Rio foi confirmado na terça (14). É um homem de 38 anos, morador de Londres, que chegou ao Brasil em 11 de junho e procurou atendimento no Instituto Evandro Chagas no dia seguinte ao desembarqye. As amostras foram analisadas pelo Instituto Carlos Chagas Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). A secretaria municipal também conta com a colaboração da pasta estadual de saúde do Rio de Janeiro para realizar o monitoramento de pessoas que tiveram contato com o paciente. Atualmente, já existem cinco pessoas sendo monitoradas pelas autoridades de saúde do Rio por terem tido contato próximo com ele. É observado se elas desenvolvem sintomas da doença —caso venham a ter, serão feitos testes para diagnóstico. No entanto, todos esses cinco não são passageiros do avião, afirmam as secretarias. Segundo a pasta municipal, ainda não foram definidos os procedimentos de monitoramento que devem ser seguidos para os passageiros. Já em São Paulo, a Secretaria Estadual de Saúde diz que entrou em contato com todos os passageiros dos voos que tiveram casos confirmados. Assim como ocorreu no Rio de Janeiro, os dados dos passageiros foram passados pela Anvisa. A agência de vigilância sanitária, por sua vez, explica que é sua atribuição levantar informações em portos e aeroportos, tanto para monkeypox (nome em inglês da varíola dos macacos) quanto para outras doenças. A Anvisa afirma que repassa as informações dos passageiros e tripulações para autoridades de saúde do país, como as secretarias locais, e essas definem como realizar o acompanhamento dessas pessoas. A Folha entrou em contato com o Ministério da Saúde para que comentasse esse protocolo em casos de voos com diagnóstico de monkeypox, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.

CHANCES DE TRANSMISSÃO

Monitorar passageiros em voos com casos confirmados de varíola dos macacos ainda gera algumas incertezas. Isso porque a transmissão do vírus se dá principalmente pelo contato com as feridas de pessoas infectados. Outra forma comum é por meio de materiais, como roupas, que tiveram contato com essas feridas. No entanto, o patógeno também pode ser transmitido por meio de secreções respiratórias, mas demanda contato próximo e prolongado. O CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA), por exemplo, afirma que passar por uma pessoa com a doença em um supermercado não deve causar a transmissão, por exemplo. Justamente por ter uma menor chance de infecção por vias respiratórias, as possibilidades de transmissão em aviões são pequenas. O CDC explica que “nos casos em que pessoas com varíola dos macacos viajaram de avião, nenhum caso conhecido de monkeypox ocorreu em pessoas sentadas ao seu redor, mesmo em longos voos internacionais”. Mesmo assim, medidas de monitoramento são importantes, principalmente em momentos iniciais de surto como o que se passa agora, afirma Raquel Stucchi, infectologista e professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). “Essa energia que está sendo gasta para investigação dos passageiros, neste momento onde os primeiros casos aparecem no país, acho que se justifica”, diz. Stucchi afirma que, nessas situações, uma medida que pode ser tomada é a adoção de um questionário ou um aplicativo em que os passageiros indicam diariamente se desenvolveram algum sintoma comum à varíola dos macacos, como febre ou lesões em formas de bolhas. A partir de medidas de monitoramento desses primeiros voos, é possível balizar se essa iniciativa deve realmente ser tomada para outros casos semelhantes, continua a infectologista. Clarissa Damaso, virologista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e uma das pesquisadoras que compõem o grupo de trabalho para enfrentamento da varíola de macacos organizado na universidade, afirma que um aspecto importante é definir protocolos de monitoramento para serem seguidos em todos os casos. “Mesmo que a probabilidade [de transmissão] seja baixa, não quer dizer que seja impossível. Isso porque você tem uma transmissão por contato de pele, essa é a maneira principal, e há também uma transmissão face a face que dentro do avião seria mais complicado, exceto se a pessoa conhecesse muito o passageiro que está do lado”, diz Damaso. A virologista exemplifica que é possível ter contato em um avião com a pele de uma pessoa infectada, como ao apertar suas mãos ou encostar no corpo, e então ter maiores chances de infecção. No entanto, caso seja notado que a pessoa infectada pela monkeypox não havia desenvolvido as lesões no momento do voo, as chances de transmissão caem. Por isso, Damaso diz que é possível ter mecanismos diferentes de monitoramento a depender dos sintomas do passageiro infectado. De toda forma, uma providência já conhecida e que pode impedir a transmissão por vias respiratórias da varíola dos macacos é o uso de máscaras. O CDC recomenda que a pessoa infectada utilize o equipamento em contato próximo com outras pessoas. Orientação semelhante é dada por Stucchi. “O uso de máscaras impede essa transmissão respiratória que pode raramente acontecer”, conclui a infectologista.

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