Um dos principais modelos utilizados pela Casa Branca para monitorar números sobre o coronavírus atualizou mais uma vez com piora o cenário no Brasil e agora projeta mais de 165 mil mortes no país até agosto, com 5 mil mortes em um único dia no início daquele mês. Nesta semana, o Brasil registrou recorde de mais de 1,4 mil mortes por dia, quase superando a expectativa do instituto para o meio de julho, quando 1,500 mortes eram previstas em 24h. Em meados de maio, quando o IHME, instituto de métrica da Universidade de Washington, divulgou pela primeira vez dados sobre o Brasil, a previsão era de que 88 mil pessoas morressem por Covid-19 até 4 de agosto no país. No fim do mês, esse número foi atualizado para cerca de 125 mil óbitos até agosto e, agora, no início de junho, a segunda atualização elevou a previsão para 165.960 mortes até lá. O modelo usa uma janela de intervalo ampla, que no caso brasileiro varia de 113.673 e 253.131 mortes até 4 de agosto, indicando que a curva continua subindo. Em entrevista à Folha de S.Paulo no fim do mês passado, Ali Mokdad, um dos responsáveis pelos dados do Brasil no instituto, disse que a tendência de casos e mortes no país era de alta e que a situação poderia ser ainda pior se governo e população “não levassem a crise a sério” e adotassem lockdown por duas semanas. Como isso não aconteceu –pelo contrário, diversos estados brasileiros estão relaxando medidas de distanciamento social– a previsão foi atualizada para pior. As projeções do IHME mostravam que o pico de mortes diárias no Brasil deveria acontecer em 13 de julho, com 1.526 óbitos em 24 horas. Agora, em 4 de agosto, esse número pode chegar a 5.248 óbitos em um dia, segundo o instituto, e não há mais indicação de pico, ou seja, os números podem ser ainda maiores depois disso. A curva de casos e mortes diárias continua subindo vertiginosamente no Brasil até lá. Com mais de 647 mil casos confirmados, o Brasil escalou para o segundo lugar em diagnósticos no mundo, atrás somente dos EUA, que tem mais de 1,9 milhão. São mais de 34 mil mortes hoje no território brasileiro, mais do que a Itália, que foi um dos principais epicentros da pandemia. O instituto fez levantamentos em estados brasileiros como Rio, Bahia, Amazonas, Pernambuco, e também registrou pioras em grande parte das regiões desde o meio do mês. O modelo utilizado pela Casa Branca ganhou notoriedade em 31 de março, quando o presidente Donald Trump fez seu primeiro discurso sombrio e visto como realista durante a pandemia que, inicialmente, ele minimizava. Na ocasião, Trump disse que estavam previstas de 100 mil a 240 mil mortes nos EUA até agosto, mesmo com a adoção das medidas de distanciamento social. Esses números já foram revisados para baixo e para cima algumas vezes, a depender da flexibilização da curva de transmissão –e do relaxamento das regras de distanciamento social em diversos estados americanos. Caso o isolamento não fosse cumprido, disse o presidente americano à época, esse número poderia chegar a 2,2 milhões de vítimas. Naquele momento, os EUA registravam 3.700 mortes, agora já são mais de 110 mil. O presidente Jair Bolsonaro tem sido foco de preocupação entre líderes políticos e especialistas em todo mundo por insistir em minimizar a pandemia e ser contrário às regras de distanciamento social. Aliado do brasileiro, Trump suspendeu a entrada de estrangeiros que passaram pelo Brasil nos últimos 14 dias, devido à piora do quadro brasileiro. Com a adoção de regras de distanciamento social por 95% dos americanos desde março, os números do IHME acabaram revistados para baixo, e o instituto chegou a falar em 60 mil mortes até agosto. Hoje a previsão do IHME é de 140 mil morte nos EUA até agosto. A curva de mortes diárias, porém, está em queda entre os americanos. O aparente otimismo fez Trump passar a defender a reabertura econômica do país, preocupado com o impacto negativo que a pandemia pode ter na sua campanha à reeleição –mais de 30 milhões de americanos já pediram acesso ao seguro-desemprego. Desde o fim de abril, os estados americanos já começaram a retomar atividades parcialmente, porém, ainda sem o índice de testagem considerado ideal para uma reabertura segura ou mesmo sem a queda sustentada na curva de casos. Especialistas avaliam que pode haver uma segunda onda de contágio nos EUA a partir do segundo semestre.