Produção de veículos cai 21,7% no primeiro bimestre

09/03/2022 06:10 • 5m de leitura

A produção de veículos leves e pesados fechou o primeiro bimestre com 311,4 mil unidades produzidas, o que representa uma queda de 21,7% na comparação com o mesmo período de 2021. O resultado retrata o efeito da variante ômicron nas linhas de produção, associado às férias coletivas de janeiro, ao fornecimento irregular de peças e à desaceleração das vendas neste início de ano. Na comparação entre os meses de fevereiro, a queda é de 15,8%. Os dados foram divulgados nesta terça (8) pela Anfavea (associação das montadoras). Embora o retorno dos funcionários às linhas de produção no último mês tenha levado a uma melhora na escala de produção, com 165,9 mil unidades montadas e alta de 14,1% sobre janeiro, o cenário ainda não é animador. A crise no fornecimento de semicondutores persiste e, devido à guerra na Ucrânia, a melhora nesse cenário deve demorar ainda mais a ocorrer. Algumas montadoras já confirmaram paradas em março. A Caoa Chery vai colocar parte dos funcionários da fábrica de Jacareí (interior de São Paulo) em regime de lay-off (interrupção temporária dos contratos de trabalho). O início está previsto para sábado (12) e deve se estender por 52 dias, atingindo 450 dos 700 trabalhadores. Em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), a fábrica de caminhões da Mercedes-Benz também terá parte das atividades interrompida por 12 dias em março devido à falta de peças. Do lado dos revendedores, há a expectativa de melhora nas vendas com a redução da alíquota do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), que resulta em descontos médios entre 1% e 2% sobre os preços dos carros, com variações de acordo com a faixa de tributação em que o veículo está inserido e a disposição das marcas em conceder abatimentos. Ford, Kia e Nissan estão entre as marcas que já atualizaram suas tabelas de preços. Luiz Carlos Moraes, presudente da Anfavea, afirma que a entidade sempre defendeu a extinção do IPI, e diz que esse imposto não deverá existir no futuro, sendo abolido quando a reforma tributária for, enfim, implementada. “Começamos a discutir com o ministro Paulo Guedes. Como o IPI não vai existir no futuro, por que não começar a reduzir?” O presidente da Anfavea fez elogios à decisão da equipe econômica, mas a entidade esperava por mais. “Defendíamos uma redução mais forte, da ordem de 50%.” Segundo a Anfavea, a carga tributária total sobre um automóvel varia de 37% a 44%. O sistema foi criado nos anos 1960. A Anfavea propõe a criação de um sistema similar ao adotado em mercados europeus, com taxa de aproximadamente 20% concentrados no IVA (Imposto sobre Valor Agregado), sem gerar resíduos em forma de créditos tributários. A ideia, contudo, exige a unificação das tarifas nos estados, o que inclui o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços). Em São Paulo, por exemplo, a alíquota foi reajustada em 2021, passando de 12% para 14,5%. Segundo a Anfavea, a carga tributária total sobre um automóvel hoje varia de 37% a 44%. O sistema foi criado nos anos 1960. Outra preocupação é a alta da taxa Selic, que encarece os financiamentos. O presidente da Anfavea diz ter medo de que o governo exagere na dose, inviabilizando a compra a crédito. Já há sinais de que os consumidores que têm reservas e desejam trocar de carro estão optando pela compra à vista. Em fevereiro, essa foi a escolha de 63% dos compradores de veículos de passeio novos. No mesmo mês de 2021, essa fatia ficou em 51%. A expectativa é que, apesar do cenário pouco favorável à comercialização de carros, a redução dos valores sugeridos pelas marcas ajude o mercado automotivo a se recuperar após um início de ano ruim. Fevereiro terminou com 129,3 mil veículos leves e pesados emplacados, uma queda de 22,8% na comparação com o mesmo mês de 2021. Os dados são baseados no Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores) e na Fenabrave (associação dos distribuidores). Os estoques chegaram a 27 dias em fevereiro, confirmando a desaceleração das vendas. A Fenabrave solicitou o refaturamento de 82,5 mil carros que estão nos pátios das concessionárias, para que possam ser vendidos com o benefício do IPI reduzido. Segundo Moraes, março já registra uma melhora na comercialização, com média diária um pouco superior a 8.000 emplacamentos. No primeiro bimestre, essa média ficou em 6.239 unidades/dia. Mas a guerra na Ucrânia deve atrapalhar os negócios, afetando tanto o fornecimento de peças como a logística. “Eu não imaginava ter que falar sobre guerra em nossa coletiva, mas esse é um tema importante. O que estamos vivendo é de uma brutalidade assustadora”, diz Moraes. Embora as relações comerciais entre as montadoras instaladas no Brasil e o mercado russo sejam restritas a poucos componentes, a Anfavea prevê reflexos locais, com o agravamento da crise dos semicondutores, que parecia estar mais perto de uma solução. Parte da matéria-prima desses equipamentos vem da Rússia e da Ucrânia. Há ainda a alta no preço das commodities, com destaque para o petróleo, e os problemas de logística gerados pelas restrições de voos e problemas nos portos. No setor de exportações, as marcas seguem os embargos impostos pelas matrizes. A Mercedes-Benz do Brasil parou de enviar motores para a Rússia, e a Scania confirmou que interrompeu as entregas de componentes e caminhões para aquele país.

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