O fantástico mundo de Sebastião; raizeiro de Araci é destaque em entrevistas de projeto de comunicação online

10/12/2019 09:14 • 4m de leitura

O projeto Meus Sertões tem por objetivo descobrir e contar histórias relacionadas às 1.262 cidades do semiárido brasileiro. A região, que compreende dez estados desde novembro de 2017, tem cerca de 28 milhões de habitantes e 1.127.953 km² – aproximadamente três vezes o tamanho da Alemanha.

Uma dessas históricas contadas pelo projeto, sendo a primeira chamada “O fantástico mundo de Sebastião – Parte 1” e a segunda “O fantástico mundo de Sebastião – Final“.

Confira partes do primeiro artigo:

No box 56, ao lado do mercado da farinha, o paraibano Sebastião Jovino da Costa oferece a cura para diversas doenças, através das ervas e cascas de árvores que comercializa, e histórias fantásticas do tempo em que atuou como pai de santo. Paraibano de Picuí, na divisa com o Rio Grande do Norte, Sebastião Raizeiro oferece aproximadamente 200 tipos de ervas, cascas de árvore óleos e garrafadas, além de muita conversa no cantinho da feira de Araci, no sertão baiano. Na primeira parte desta reportagem, vamos tratar do conhecimento que ele acumulou nos 52 anos de trabalho com raízes. Amanhã, falaremos sobre o universo fantástico que vivenciou em cerca de duas décadas como pai de santo e como conseguiu escapar da perseguição do diabo, que queria recrutá-lo para trabalhar com as “linhas tortas” da religião. Foi uma frase do velho pai que fez Sebastião se transformar em raizeiro: “Ô meu Deus, será que eu vou morrer e não vou ter um filho que tome conta do meu povo?”. As palavras pesaram na decisão do menino, que hoje se queixa por ser uma das pessoas da família com menor renda. “Tenho um irmão em Murupi, Minas Gerais, que é bem de vida. Outro em Goiás, aposentou com um salário e meio (R$ 1.497) e ainda está trabalhando como empregado. Outro tem uma fazenda em Várzea Nova (BA) e outra em Goiás. E eu fiquei desmantelado” – diz. nA queixa logo é esquecida quando o raizeiro começa a falar do que entende. A propriedade das ervas medicinais aprendeu nos livros – cita dois “Planta cura” e “Trato com remédio caseiro – e pesquisas feitas por conta própria. Sebastião conta que nunca pegou uma erva ou casca no mato. Costuma comprá-los em Jacobina, a 260 quilômetros de Araci, e, principalmente, em Jequié, a 355 quilômetros. De vez em quando, quando sabe que encontrará remédios caseiros bons para seus clientes, vai mais longe. Para adquirir três litros de óleo de pequi viajou nove horas (640 quilômetros) até São Raimundo Nonato, no Piauí. Ele ainda negocia vidrinhos do óleo quatro anos depois da viagem. “O óleo serve pra quem sofre de mal descadeirado, dores na coluna. A pessoa bota ele na coluna e fica deitado no sol até não aguentar mais. É pra ele invertir (intervir). Serve pra doença no intestino. Problema no intestino é só botar no café amargo. Também resolve mal do vento. Se for num braço ou na vista, passa no lugar e ele bole com ela. Ele é pra muitas coisas. Até pra animal. Vaca que não quer parir, o animal que não quer parir, a pessoa dá um vidrinho dele pro bicho que pare.” – explica. A planta medicinal mais vendida por Sebastião é o barbatimão, que ele chama de barbatenã e tem propriedades anti-inflamatórias. Indicada para o tratamento de feridas, hemorragias, queimaduras, dores de garganta, malária e diabetes. Também é excelente, de acordo com o rezador para tratar sífilis, para curar sífilis. Para isto, é preciso fazer uma garrafada e usá-la como lavagem. Um molho de barbatimão custa R$ 5.

Leia mais:

O fantástico mundo de Sebastião – Parte 1” e “O fantástico mundo de Sebastião – Final“.

Sobre Paulo Oliveira, o autor do texto:

Jornalista, 57 anos, traz no sangue a mistura de carioca com português. Em 1998, após trabalhar em alguns dos principais jornais, assessorias e sites do país, foi para o Ceará e descobriu um novo mundo. Há dez anos trabalha na Bahia, mas suas andanças não param. Formou comunicadores populares nas favelas do Rio e treinou jornalistas em Moçambique, na África. Conhece 14 países e quase todos os estados brasileiros. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

Fonte: Meus Sertões

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