São 30 milhões de casos registrados da covid-19 no Brasil. De acordo com a OMS, só fica atrás dos Estados Unidos e da Índia. A esmagadora maioria dos infectados pelo coronavírus, incluindo também quem teve quadro leve, apresenta sequelas meses depois da recuperação. Análise publicada na revista científica Nature, que incluiu 47 mil pacientes, mostra que até 80% dos recuperados sentem ao menos um sintoma até quatro meses depois do fim da infecção. Vale ressaltar que esse fenômeno não é novo na história das epidemias. Diversas infecções virais deixaram seus rastros. Foi o caso da gripe espanhola, sarampo, poliomielite, que dentre as manifestações clínicas mais comuns, incluía de quadros neurológicos – encefalite letárgica – problemas respiratórios, a ondas de ataques cardíacos e derrames cerebrais. Para melhor visualizar o panorama complexo do tema, um grupo de estudo (Coalisão-BR) acompanhou cerca de mil indivíduos internados e concluiu que até 17% tiveram que ser hospitalizados novamente tempos depois – e 7% morreram até seis meses depois da alta. As sequelas dessa tragédia que abalou substancialmente a humanidade ainda serão relatadas durante muito tempo. Esta atual fase é tão preocupante quanto a própria doença. A covid intensifica os efeitos de quem já possui comorbidades e as pessoas apresentam sintomas que vão da fadiga à ansiedade; falta de ar, perda do paladar e olfato, até dificuldades de raciocínio, impactos neurológicos e cardíacos. Há na literatura menção de mais de 200 sintomas e, por isso, exigirá desafios no cuidado a esses pacientes em várias frentes, que irá impactar a saúde pública – SUS – de forma alarmante.
A percepção responsável deste momento tem de resultar em diretrizes precisas para que governos e autoridades de saúde adotem ações que identifiquem a condição de forma correta, sem que seja negligenciada ou desvalorizada. Serviços de referência mundiais, como John Hopkins (EUA), Sírio-Libanês (Brasil), St Thomas NHS (Inglaterra), dentre outros, readequaram suas estruturas direcionando um olhar atento a essa nova demanda de saúde. Portanto, deixa de ser um problema individual e se torna uma bomba-relógio para os sistemas de saúde. O quadro é preocupante, pelo número de pessoas atingidas, pela duração dos sintomas e pelo impacto social e econômico que pode causar. A pandemia deixará um rastro de doenças crônicas pós virais que exigirão mais recursos do que o próprio tratamento da fase aguda em hospitais. De acordo com a London School Hygiene & Tropical Medicine estimaram que as sequelas da covid consumiam 30% dos gastos de saúde com a epidemia. Assim, implantando essa premissa de cuidado, ganha o paciente e a sociedade.
Artigo de Dr. Tiago A. Fonseca Nunes – Médico e escritor