Por conta das fortes chuvas que caem desde dezembro entre a Bahia e Minas Gerais, o nível da Bacia do São Francisco está cerca de 8 metros e 24 centímetros acima do normal e preocupa autoridades e populações ribeirinhas. A vazão da bacia é a maior desde 2009. As usinas de Sobradinho e Xingó chegarão a 4.000 m³/s até o próximo dia 24, quando a situação será reavaliada. Em municípios baianos como Juazeiro e Bom Jesus da Lapa, moradores já estão sendo retirados de suas casas. No sábado (15), houve a primeira tentativa da prefeitura de retirada das famílias no bairro de Angari, em Juazeiro, no norte do estado. A comunidade é vizinha à Barragem de Sobradinho, que já ultrapassou os 60% de sua capacidade, mas os moradores resistiram e não deixaram os imóveis. Nessa segunda (17), mais uma tentativa. Das 25 famílias em risco, apenas oito aceitaram a mudança. Dois caminhões foram disponibilizados para carregar os móveis e ajudar no deslocamento dos moradores, que ficarão abrigados na Escola Municipal de Tempo Integral Paulo VI. “A prefeita Suzana Ramos, logo que soube do aumento da vazão da Barragem de Sobradinho, reuniu todo o seu secretariado e formou uma força-tarefa para dar suporte e assistência às famílias ribeirinhas de Juazeiro. A prefeitura já efetuou compras emergenciais de colchões, cobertores, travesseiros, álcool em gel, água mineral e alimentos, tudo que essas pessoas precisarem estará à disposição delas”, ressaltou o titular da Secretaria de Desenvolvimento Social, Mulher e Diversidade (Sedes), Teobaldo Pedro. Com receio do avanço do rio já próximo de sua casa, a cabeleireira Elaine da Silva Brito foi a primeira moradora a decidir deixar o Angari. Ela, no entanto, preferiu se abrigar na casa de familiares. “Eu não vou ficar na escola porque resolvi ir para casa de parentes, mas nem todo mundo tem esse privilégio. E esse auxílio dos caminhões, por exemplo, está sendo fundamental para mim e outros moradores porque nem todo mundo tem condições financeiras de pagar uma mudança”, disse Elaine. A cidade de Bom Jesus da Lapa também está sendo bastante atingida. Restaurantes que ficam na área ribeirinha foram inundados e a população foi orientada a deixar os imóveis. Na sexta (14), funcionários da Secretaria de Assistência Social foram até as ilhas que estão isoladas pela cheia do rio São Francisco no município para resgatar os moradores ribeirinhos em situação de vulnerabilidade e levá-los à sede do município no qual já há uma estrutura montada para recebê-los. Dentre as comunidades atingidas estão Bebedouro, Cabeça do Boi, Campo do Umbuzeiro, Ilha Banco do Jogo, Ilha da Canabrava, Ilha da Mariquinha e Ilha do Fogo. Famílias ribeirinhas de outras cidades do país já foram atingidas pela cheia do Velho Chico e estão sendo retiradas. Parte delas está na região norte do estado de Minas Gerais. No estado de Alagoas, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil emitiu alerta para sete municípios, sobre o aumento da vazão, porque o nível também tem subido de forma significativa.
O alerta e o risco
Acompanhando a situação da bacia, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) emitiu, na última terça-feira (11), nota pública alertando a população ribeirinha sobre a possibilidade de cheias no decorrer dos próximos dias. A nota, assinada pelo presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, orienta a população a não ocupar o leito do rio e indica ações a serem adotadas pelos municípios localizados nas regiões do Submédio e do Baixo São Francisco. “Nessas condições, caracterizada a necessidade de operação para controle de cheias, Cemig e Chesf, agentes responsáveis pelas principais hidrelétricas do rio São Francisco, identificam a necessidade de aumentar as vazões defluentes praticadas com o objetivo de preservar os volumes de espera dos reservatórios. Os volumes de espera são projetados para suportar as ondas de cheia e proteger as populações e estruturas abaixo das barragens contra inundações”, informou a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
Por que o nível do rio está elevado?
Segundo a ANA, foi constatado volume de chuva acima da média esperada para dezembro de 2021 no Oeste baiano e em Minas Gerais, formando condições de umidade do solo e aumento do escoamento e vazão da bacia. Esse nível alto de vazão não era observado desde 2009.
Municípios do Submédio e Baixo São Francisco que podem ser afetados:
Umburanas
Várzea Nova
Uauá
Sobradinho
Rodelas
Ourolândia
Mirangaba
Miguel Calmon
Macururé
Juazeiro
Jaguarari
Jacobina
Curaçá
Chorrochó
Campo Formoso
Santa Brígida
Glória
Jeremoabo
Paulo Afonso
Pedro Alexandre