

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), voltou a negar, nesta segunda-feira (22), ter negociado o mérito do Projeto de Lei da Dosimetria, aprovado recentemente pelo Congresso Nacional, que prevê a redução das penas dos condenados pelos atos de 8 de Janeiro e pode beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O petista afirmou que sua posição contrária ao projeto está registrada de forma oficial. Em entrevista à Rádio Metrópole, o senador disse estar “muito à vontade” para responder às críticas e reforçou que não houve acordo envolvendo pontos centrais da proposta nem consulta prévia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu amigo pessoal, sobre o tema. O PL da Dosimetria deve ser vetado por Lula, conforme anunciado na última semana.
Segundo Wagner, a condução do processo no Senado ocorreu em um contexto no qual a derrota do governo já era dada como certa, diante da consolidação de uma maioria favorável ao projeto. O senador explicou que, apesar de discordar do conteúdo do PL da Dosimetria, havia pouca margem de manobra política para alterar o resultado final da votação. “Estava consagrado que eles tinham maioria para a votação desse PL”, afirmou Wagner, ao relatar que três tentativas de adiar a análise da matéria foram derrotadas. O parlamentar destacou que sua atuação se deu dentro das regras do processo democrático e que sua posição contrária ao projeto nunca mudou.
Diante das críticas, o senador também negou que tenha havido qualquer tipo de barganha envolvendo o mérito da proposta. De acordo com Wagner, a condução da pauta teve como objetivo viabilizar a votação de outros projetos de interesse do governo, como o que trata da taxação das bets e fintechs, mas sem qualquer negociação relacionada à dosimetria das penas. “Não vendi democracia nenhuma, o presidente Lula já disse que vai vetar e nós votamos contra. Mas democracia é isso: quem tem maioria ganha. Só fiz condução para atingir um objetivo que nós tínhamos. Não negociei Dosimetria, não negociei nenhuma dessas pautas fundamentais para o governo brasileiro”, declarou. Wagner contou ainda que acompanhava a votação enquanto participava de uma reunião ministerial e decidiu ir pessoalmente à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) após as derrotas nos pedidos de adiamento. Em diálogo com o senador também baiano Otto Alencar (PSD), que preside o colegiado, avaliou que não havia mais espaço para reverter o cenário. Segundo o petista, uma eventual vista de cinco dias apenas empurraria o debate para o próximo ano, sem alterar o resultado. “O jogo estava jogado. Remanescia uma hipótese de Otto dar uma vista de 5 dias e iria cair para o ano que vem a e na minha opinião a gente não ia ganhar nada e ai fizemos esse combinação. Nunca defendi e nem votei a favor do PL da dosimetria, infelizmente a votação foi 48 a 25, mas a votação foi semelhante ao que teve na Câmara”, completou.
Além do debate sobre o PL da Dosimetria, Jaques Wagner também comentou o cenário político na Bahia e a formação da chapa majoritária para as eleições de 2026. O senador afirmou que segue apostando no diálogo e acredita que não haverá racha na base aliada, incluindo os partidos que integram o campo governista, como o PSD. “Eu pessoalmente acho que não terá racha e vou trabalhar para isso. Se acontecer, será contra a minha vontade”, disse. Para Wagner, é fundamental buscar uma composição que contemple os interesses de todos os aliados, evitando disputas internas que possam fragilizar o grupo político. O senador minimizou a ideia de que a força de uma eventual chapa chamada de “puro-sangue” do PT se baseie apenas na filiação partidária. Segundo ele, o peso político estaria na trajetória dos nomes envolvidos, como Rui Costa, Jerônimo Rodrigues e o próprio Wagner, todos com experiência à frente do Executivo estadual. No entanto, a chapa “puro-sangue” colocaria o senador Angelo Coronel (PSD) de fora da base governista. O pessedista voltou a dizer, inclusive, neste fim de semana, que não abrirá mão de tentar renovar o seu atual mandato no Senado. Falta agora saber se isso ocorrerá sob uma candidatura avulsa ou se ele mudará de lado e concorrerá na possível chapa do atual vice-presidente nacional do União Brasil, ACM Neto. O ex-prefeito de Salvador deve concorrer novamente ao Palácio de Ondina contra o governador Jerônimo Rodrigues (PT), que acabou sendo eleito em 2022 no segundo turno.
Wagner também aproveitou a entrevista para rebater críticas sobre a atuação do governador em Salvador. Para o senador, a presença de Jerônimo na capital pode ser medida pelas entregas e investimentos realizados, tanto com recursos do governo estadual quanto em parceria com o governo federal. Entre as obras citadas, Wagner destacou o VLT de Salvador, a nova Rodoviária, a ampliação do metrô até o Campo Grande e intervenções em áreas de encostas. Segundo ele, essas ações demonstram o compromisso do governo com a capital baiana, ao mesmo tempo em que mantém atenção ao interior do Estado. “O VLT está aí, é Jerônimo. Nova Rodoviária está aí, é Jerônimo. O metrô, extensão para o Campo Grande, está aí, é Jerônimo”, enumerou. O senador ressaltou ainda que o governador dedicou parte significativa do mandato a entregas no interior, como Escolas de Tempo Integral e melhorias na infraestrutura rodoviária.
Na avaliação de Jaques Wagner, o episódio envolvendo o PL da Dosimetria evidencia o funcionamento do sistema democrático, no qual a maioria parlamentar define o resultado das votações. Para ele, críticas que desconsideram esse contexto acabam distorcendo o papel da articulação política no Congresso. Ao reforçar que nunca defendeu nem votou a favor do projeto, Wagner concluiu afirmando que seguirá atuando para garantir a unidade da base governista e a aprovação de pautas consideradas estratégicas para o país, mantendo o diálogo como principal ferramenta política.
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