Morreu na tarde de ontem Paulo Henrique Machado, paciente que morava havia 51 anos no HC (Hospital das Clínicas) da USP (Universidade de São Paulo), localizado no centro da capital paulista. Paulo vivia no hospital desde 1969 após contrair poliomielite quando era bebê e precisou ficar aos cuidados médicos devido às sequelas causadas pela doença. Não foi informada a causa da morte. Há duas semanas, Paulo tinha publicado uma transmissão ao vivo em seu canal no YouTube com o título “Apesar de Tudo, Estamos Vivos!”. Nele, o paciente conta que tem “passado por dificuldades no estômago” e explica que estava com pedra na vesícula e a situação “ficava meio complicada”. O homem ainda comentou que estava sentindo muitas dores devido ao caso. Em nota enviada ao UOL, o Hospital das Clínicas lamentou a morte do paciente e informou que “se solidariza com os familiares e amigos” de Paulo. “O Hospital das Clínicas da FMUSP informa com pesar o falecimento do paciente Paulo Henrique Machado. Paulo contraiu poliomielite quando criança e há 51 anos era morador do Instituto de Ortopedia e Traumatologia devido às sequelas da doença e aos cuidados especiais que a sua condição clínica inspirava. Durante todo este período, teve a atenção humanizada e especializada dos profissionais do Hospital.” A poliomielite é uma doença causada pelos tipos 1, 2 e 3 do poliovírus, que não tem cura e é contagiosa, mas cuja transmissão foi reduzida drasticamente por conta de vacinas. De acordo com o Ministério da Saúde, a maior parte das pessoas infectadas não possuem sintomas, mas isso não impede que outras pessoas sejam contaminadas. Ainda há manifestações graves da doença, como foi o caso de Paulo, que causa paralisia e pode até levar à morte.
Vida no Hospital
Paulo vivia no Hospital das Clínicas desde que tinha um ano e meio de idade. Em entrevista à Folha de S.Paulo, em 2013, Paulo contou que a mãe morreu dois dias depois do parto dele. Ainda quando bebê, ele teve paralisia infantil que atingiu o sistema respiratório, obrigando-o a contar com a ajuda de um aparelho de respiração artificial para viver. Mesmo morando no hospital, Paulo estudou, aprendeu a ler e a escrever, concluiu o ensino médio e fez diversos cursos de informática e na área de softwares, que ele era completamente apaixonado. Ele ainda compartilhava a sua rotina no seu canal do YouTube e página no Facebook. Foi essa paixão pela tecnologia, games e pela cultura geek que moveu o paciente a transformar as suas vivências em uma série de desenhos animados destinado ao público infantil. “As Aventuras de Léca e Seus Amigos” conta a história de sete crianças com deficiência física e ainda relembra amigos de Paulo que não resistiram a doença. A homenagem da trama também ficou por conta de Léca, Eliana Zagui, vizinha de cama de Paulo e fiel companheira do paciente durante os seus anos de internação. “Pensei em uma animação com deficientes físicos. Mas não sabia se isso despertaria o interesse das pessoas. Foi então, vendo as animações com personagens deficientes feitas por um estúdio britânico de que eu gosto [Aardman Animations, especializado em animações stop-motion], que fez a ‘Fuga das Galinhas’, que pensei estar no caminho certo”, contou o paciente à época.