”Me vejo sozinha”, diz mulher que perdeu mãe, irmão e 3 tios para a Covid

16/12/2020 03:19 • 5m de leitura

“Eu me vejo sozinha”. A frase dita pela assistente social Thamires da Silva Netto, 29 anos, resume o sentimento da moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que perdeu cinco familiares durante a pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2). Aos 29 anos, Thamires teve que enterrar três tios, a mãe, Rosalita da Silva Netto e, no último fim de semana, a irmã, Tatiane da Silva Netto, 34 anos. Em entrevista ao G1, ela afirmou que a sensação é de que está vivendo um “pesadelo que não acabou”. “Eu me vejo sozinha. Mesmo tendo o apoio de muita gente, eu sinto que perdi minha base. Vai ser muito difícil ficar sem minha mãe e irmã, sem vê-las, sem conversar. A gente tinha até grupo no WhatsApp nós três, e agora só sobrou eu”, afirmou Thamires. “É uma coisa horrorosa o que eu tenho passado. Parece que é um pesadelo que não acabou. O baque foi enorme de perder minha mãe e irmã. Eu estou devastada. Éramos muito unidas, sempre fomos nós três para tudo, minha irmã mais velha era a minha segunda mãe. A gente compartilhava tudo da vida. Não sei como vai ser daqui para frente”, completou a assistente social. O sofrimento da família em 2020 começou ainda no início de abril, com a perda da avó e matriarca Derly de Paula Amaro, de 90 anos. Apesar de ter morrido por insuficiência respiratória, o teste rápido feito pela equipe do Samu não detectou o coronavírus. “Tudo começou no início da pandemia. Minha avó paterna teve os sintomas de Covid, a minha família acionou a Samu, fizeram exame rápido e deu negativo. Falaram que não era necessário levar para o hospital. Na manhã do dia seguinte, minha avó faleceu. A causa da morte foi insuficiência respiratória. Até hoje não tenho certeza se não foi Covid”, contou Thamires. Já em outubro, os tios Rosangela Maria da Silva Ferreira, 62 anos, e Milton Bastos Ferreira, 66 anos, testaram positivo. Eles foram levados para o Hospital Municipal São José, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. “Minha tia começou a manifestar os sintomas de Covid. Fez o exame rápido, também deu negativo. Fez tomografia e já estava com 50% do pulmão comprometido e foi para o hospital. Nesse meio tempo, o marido dela também começou a ter sintomas. Eles chegaram a ficar juntos no mesmo quarto do hospital São José”, disse. “Infelizmente, a minha tia não resistiu, veio a óbito. Meu tio sempre perguntava por ela, mas ficou sem notícia dela e começou a piorar. Dez dias depois ele faleceu também”. A mãe de Thamires ficou muito abalada com a morte da irmã, e a família suspeita que ela tenha se infectado durante o velório. “Tudo isso mexeu muito com a nossa família. Minha mãe ficou devastada por ter perdido a irmã. Ela foi para o enterro dos dois, foi para o cemitério e a gente suspeita que tenha sido nesse processo de velório no cemitério que ela se infectou. Antes, ela estava sempre em casa, não tinha exposição ao vírus”, disse. Com alguns sintomas da doença, a mãe de Thamires, Rosalita da Silva Netto, foi levada para o Hospital Pasteur, no Méier, Zona Norte do Rio. A notícia da morte da mãe foi dada enquanto Thamires chegava com seu pai, Jorge de Paula Netto, na emergência do mesmo hospital para iniciar o tratamento também contra coronavírus. “Lá ela piorou e precisou ser intubada. Enquanto isso, meu pai estava com Covid tratando em casa. Levamos ele para a emergência e, neste momento, recebemos a informação de que minha mãe tinha falecido. Foi horrível”, disse Thamires. “Enquanto meu pai estava no hospital, minha irmã estava com Covid. Ela começou a tratar em casa. Mas começou a piorar. Ela foi internada na Clínica Santa Bárbara, na Zona Sul. Na última sexta-feira, ligaram para gente dizendo que ela estava mais cansada, precisando de mais oxigênio. Ela acabou sendo intubada e também faleceu. No sábado, o irmão do meu pai também faleceu”, completou. Ao final da entrevista, Thamires disse ainda que precisa seguir em frente “cuidando do que restou” de sua família. Ela fez um apelo para que as pessoas tenham “bom senso” no último mês do ano porque a pandemia não terminou. A assistente social teve seus planos de fim de ano interrompidos. “Na última vez que eu a encontrei, a gente começou a fazer planos para o Natal e Ano Novo. Sobre o que vamos fazer para a ceia. Eu falei que não abria mão do bacalhau dela, acabou que não vou comer o bacalhau da minha mãe esse ano”.

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