Jovem baiano aprende Libras para alfabetizar e evangelizar pessoas surdas

06/08/2021 04:08 • 5m de leitura

Amor, essa é a maior motivação para o trabalho que o jovem Helbert Camilo realiza com a comunidade surda de Itabuna, no sul da Bahia. Fotógrafo, Helbert passou a trabalhar com confeitaria na pandemia mas afirma que sua principal vocação, na verdade, é aquela que não traz retorno financeiro mas sim crescimento como pessoa: o voluntariado. Natural de Eunápolis, o missionário deu os primeiros passos no aprendizado da Língua Brasileira de Sinais (Libras) ainda em sua cidade natal. Ao presenciar a dificuldade de um vizinho que era deficiente auditivo para resolver questões simples do dia a dia, por não conseguir se comunicar com as pessoas, Helbert decidiu ajudá-lo. “Meu vizinho era surdo e estava passando por uma fase bem difícil. Ele estava começando a aprender a Bíblia de Jeová e eu queria conversar e ser amigo dele, pois percebia que ele era muito sozinho. Por isso, decidi aprender libras e acabei gostando do idioma”, conta. Em sua congregação, no templo Testemunhas de Jeová, havia um núcleo que promovia a evangelização através da alfabetização de pessoas com deficiência auditiva. Com uma lista de cidades que tinham o mesmo projeto em mãos, o rapaz decidiu que precisava alçar novos voos ensinando e também aprendendo com as pessoas surdas. Helbert juntou economias e embarcou na maior e mais importante aventura de sua vida. Determinado a altruísta, mudou para Itabuna, onde enfrentou dias desafiadores, mas a vontade de tornar a vida dos deficientes auditivos melhor o fez persistir. Sem os itens básicos para viver de forma confortável, ele tinha de sobra algo que não pode faltar nos momentos de aperto: a fé que manteve o missionário firme em seu propósito. “Mudei e vivi um tempo apenas com o que o dinheiro que eu tinha poderia pagar. O importante era realizar o meu trabalho, indo nos bairros mais distantes para poder ensinar os surdos um pouco sobre a Bíblia, um pouco sobre Deus e assim alfabetizá-los. Quando comecei, muitos não sabiam o que era o próprio idioma, faziam mímicas e não conseguiam se comunicar entre si”, relata. Através do projeto solidário, Helbert e mais alguns amigos da congregação levam conhecimento, não somente para surdos, mas também para as famílias que acabam negligenciando e não oferecendo o suporte necessário que os deficientes auditivos precisam. “Eu já encontrei pessoas em situações sub-humanas, sem saber a importância da higiene básica, por exemplo, porque os familiares achavam que eles eram deficientes mentais e não os ajudavam como deveriam. Existe potencial em cada uma dessas pessoas, elas só precisam ser direcionadas”, defende o missionário. Por isso, Helbert sabe que sua missão não se limita apenas às pessoas que participam do projeto. Através do seu Instagram, o jovem divulga doces e quitutes com uma boa dose de inclusão. O confeiteiro compartilha dicas e fala sobre o seu dia a dia no mundo da confeitaria, usando também a linguagem de sinais. “Faço esse trabalho inclusivo para que os surdos entendam sobre o que está sendo falado e isso é muito importante, pois faz com que eles se sintam parte da sociedade e não excluídos dela”, conta. O amor e a determinação pelo que faz dão a Herbert a certeza de ter feito a escolha certa, quando decidiu trabalhar com evangelização. “Tanto a fotografia quanto a confeitaria são atividades para poder pagar as contas. O meu trabalho mais importante e gratificante é poder alfabetizar e evangelizar surdos”, destaca.

Bons exemplos são seguidos

Valdilene Jesus Santos, 54 anos, é mãe de Helbert e viu no trabalho voluntário que o filho realiza a oportunidade de também fazer o bem ao próximo. Assim como ele, começou a aprender libras com intuito de trabalhar com evangelização. “Eu sempre vi as pessoas conversando com os surdos em libras e achava interessante até que o meu filho começou a aprender. Resolvi conhecer o idioma e hoje meu desejo é levar o mesmo aprendizado para outras pessoas”, revela a cabeleireira feliz pela iniciativa da família a favor da inclusão de deficientes auditivos na sociedade. A felicidade em ajudar o próximo, que passou de filho para mãe, agora é compartilhada com os colegas de turma da alfabetização para surdos que acabam sendo preparados para seguir o mesmo caminho, o da evangelização sem barreiras. “Não é porque eles não ouvem que não podem aprender sobre a palavra de Deus. Estou aqui para pregar o pouco que sei para que, no futuro, os surdos que conheço possam também ensinar o que aprenderam, sem dificuldade”, conclui.

Leia também