
A Guerra dos Canudos teve sua história recontada com uma nova roupagem, graças ao game Hell Clock, criado pelo desenvolvedor baiano Mark Venturelli. A proposta do jogo é unir elementos sobrenaturais com fatos históricos, situando a narrativa no sertão baiano logo após a Guerra de Canudos, ocorrida no final do século XIX. Longe de uma simples recriação, a obra propõe uma reflexão sobre feridas ainda abertas na sociedade brasileira e faz isso por meio de uma experiência interativa envolvente, com sotaque e alma nordestina. Ambientado três anos após o fim do massacre de Canudos, o jogo coloca o jogador no papel de Pajeú, um jagunço de Antônio Conselheiro que desce às profundezas do inferno com um relógio mágico capaz de manipular o tempo. Seu objetivo: resgatar a alma do líder espiritual aprisionada no submundo. A jornada é marcada por batalhas contra criaturas demoníacas, diálogos em português com forte acento regional e uma atmosfera que remete ao realismo mágico, tão presente na cultura brasileira. As informações são do G1 Bahia.
Mark Venturelli é o fundador da Rogue Snail, empresa por trás do desenvolvimento do game. Natural de Salvador, ele atualmente reside em Brasília e tem mais de 17 anos de experiência na indústria de jogos. Venturelli explica que levou tempo até sentir que estava pronto para abordar um tema tão sensível como a história da Bahia em uma produção internacional. Ele afirma que Canudos é simbólico de diversos conflitos que ainda existem no Brasil, como os de ordem socioeconômica, racial e cultural, e que a ideia de usar um relógio como mecânica principal busca mostrar que o tempo passa, mas certos ciclos se repetem. Apesar das dificuldades de inserção do produto nacional no mercado internacional, Hell Clock já acumula mais de 72 mil interessados em sua versão final, que será lançada oficialmente em 22 de julho nas principais plataformas digitais de games. A versão demo já está disponível e conta com boa receptividade, especialmente nos Estados Unidos e no Brasil, que ocupam, respectivamente, o primeiro e segundo lugares no ranking de downloads.
Produzido inteiramente em português, com legendas para outros idiomas, o jogo conta com um elenco de dubladores exclusivamente nordestinos. Entre eles está o ator Dody Só, que interpretou Pajeú no filme “Guerra de Canudos”, dirigido por Sérgio Rezende nos anos 1990. No game, ele revive o personagem, agora em um novo formato e contexto. Venturelli enfatiza que a escolha da equipe de dublagem e o cuidado com os sotaques foram fundamentais para garantir autenticidade à narrativa. Segundo ele, o objetivo do jogo é representar a cultura brasileira de forma honesta e respeitosa, e ver estrangeiros jogando algo com a língua e o jeito de falar do país representa uma grande conquista artística.
Para desenvolver os cenários e os elementos históricos do jogo, Venturelli contou com a colaboração do historiador Swami Abdalla-Santos, especialista nas histórias da Bahia e do Ceará. Embora o desenvolvedor nunca tenha visitado Canudos pessoalmente, ele mergulhou em pesquisas acadêmicas, arquivos digitais e acervos bibliográficos para compor um universo visual e narrativo coerente com o passado real. A equipe de produção, que começou com apenas três pessoas em 2020, hoje é formada por 13 profissionais. O projeto recebeu investimentos públicos e privados e evoluiu ao longo dos anos, tanto em escopo quanto em ambição.
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