

Os governadores do Consórcio Nordeste pretendem se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos próximos dias para discutir os efeitos das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos ao Brasil. A medida, anunciada pelo presidente Donald Trump, prevê um imposto de 50% sobre todas as exportações brasileiras, com início programado para a próxima sexta-feira (1º). Os encontros, previstos para as próximas terça (5) e quarta-feira (6), devem contar com os governadores Jerônimo Rodrigues (BA), Paulo Dantas (AL), Fábio Mitidieri (SE), Carlos Brandão (MA), Rafael Fonteles (PI), Raquel Lyra (PE), Elmano de Freitas (CE), João Azevêdo (PB) e Fábio Mitidieri (SE).
Apesar das inúmeras tentativas de negociação pelo governo brasileiro, o presidente Donald Trump, reafirmou, em postagem na rede Truth Social, que o prazo para o início do tarifaço será mantido. A declaração sinaliza que não há expectativa de recuo por parte do governo norte-americano, pressionando exportadores e autoridades brasileiras. “O prazo de primeiro de agosto é o prazo de primeiro de agosto. Primeiro de agosto, um grande dia para a América!!!”, confirmou Trump.
Assim como Trump, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, confirmou que o prazo final para a entrada em vigor das taxações não será prorrogado, sendo a única exceção é a China, com quem os EUA negociam em um cronograma separado. “Sexta-feira, 1º de agosto, é a data em que definiremos todas essas tarifas. E daí em diante elas entram em vigor”, afirmou o secretário em entrevista à emissora CNBC nesta última terça-feira (29). Durante a entrevista, Lutnick admitiu que há espaço para isenção tarifária em casos de produtos não produzidos pelos Estados Unidos. “Se um país produz uma coisa que nós não produzimos, isso pode entrar por zero [de tarifa]. Se fizermos um acordo com um país que produz manga ou abacaxi, então eles podem vir sem tarifas. Café e cacau poderiam ser outros exemplos de recursos naturais [que serão isentos]”, disse o secretário. Apesar disso, nenhum país foi mencionado diretamente como beneficiado com a eventual flexibilização. O Brasil é um dos principais exportadores mundiais de café, cacau e frutas tropicais como manga e abacaxi — produtos amplamente cultivados no Nordeste. A sinalização de que esses itens poderiam escapar da taxação foi vista por especialistas como uma tentativa dos EUA de abrir espaço para negociações bilaterais mais vantajosas. Ainda assim, Howard Lutnick deixou claro que o governo norte-americano endureceu sua postura. “Muitos países nos fizeram ofertas razoáveis para abrir seus mercados, coisas como 50%, 30% [de abertura]. O presidente disse: ‘Não, não, eu quero os mercados completamente abertos’”, contou.
Com a proximidade da data-limite e diante da incerteza sobre o alcance da tarifa, os governadores nordestinos articulam uma reunião emergencial com Lula para debater medidas de enfrentamento aos impactos econômicos, sobretudo no setor agrícola e de exportações. O Nordeste é uma das regiões que mais podem sofrer com as novas regras, já que depende fortemente das exportações de frutas, café e outros itens agroindustriais. O Consórcio Nordeste, que reúne os nove estados da região, quer pressionar o governo federal a buscar um entendimento com os EUA para que produtos da pauta regional sejam excluídos das tarifas. A preocupação é que o tarifaço afete diretamente pequenos produtores, empresas exportadoras e o fluxo de investimentos no setor rural. A Bahia, por exemplo, é um dos maiores polos exportadores de frutas frescas do país, com destaque para o Vale do São Francisco, região produtora de manga, uva e melão. O Piauí e o Maranhão também têm cadeias produtivas relevantes para o mercado externo.
Nos bastidores, fontes do Palácio do Planalto avaliam que as declarações de Lutnick sinalizam margem para negociação, mas reconhecem que a postura dos EUA é de endurecimento. O Ministério das Relações Exteriores e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços já foram acionados para reforçar o diálogo com Washington. A expectativa é que Lula busque abrir canais diretos com o governo norte-americano nos próximos dias. O presidente tem adotado tom crítico à política econômica de Trump e já indicou que pode recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), caso as medidas sejam consideradas abusivas ou discriminatórias. Enquanto isso, o setor produtivo brasileiro se mobiliza. Entidades do agronegócio e da indústria têm intensificado o lobby em Brasília para evitar prejuízos bilionários à economia. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que o tarifaço pode gerar perdas de até R$ 40 bilhões por ano, caso se mantenha nos níveis atuais.
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