Família do ex-prefeito Erasmo Carvalho envia nota de repúdio à aprovação de PL que altera nome do Mercado Municipal de Araci

15/10/2020 05:55 • 7m de leitura

A família do ex-prefeito Erasmo Carvalho enviou uma nota de repúdio à aprovação do PL (Projeto de Lei), aprovado na última terça-feira (13), na sessão ordinária da Câmara de Vereadores de Araci, que pretende alterar o nome do Mercado Municipal de Araci. Segundo informações, o autor do projeto de lei é o vereador José Augusto (PDT), que propõe a denominação do Mercado Municipal de Araci para Mercado Municipal José Eliotério da Silva Zedafó.

Foto: Erasmo Carvalho, ex-prefeito de Araci

A nota de repúdio foi feita pelos netos do ex-prefeito, Carlos Klei Carvalho de Moura e Erasmo de Oliveira Carvalho Neto, onde destacam a indignação, insatisfação e sentimento de desprezo desta ação para com as famílias Carvalho e Oliveira que possuem uma identidade histórica na cidade de Araci.

Leia a nota de repúdio na integra:

NOTA DE REPÚDIO AO PROJETO QUE ALTERA NOME DO MERCADO MUNICIPAL DE ARACI

Partindo da ideia de que a sociedade civil é a soma de cada indivíduo e que a sociedade é organizada com base no “pluralismo político”, representada, através dos seus parlamentares, parece óbvio dizer, que o poder emana do POVO. A Constituição Federal do Brasil, diz em seu artigo inaugural, Art. 1º ; Parágrafo único. “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”

Assim, o poder do Poder Legislativo Municipal emana do povo (Parágrafo único do art. 1º CRFB/88), através do voto que é a expressão máxima da soberania popular, conforme tipificado na Constituição Federal em seu Art. 14. “A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei”. Por sua vez, os vereadores são, também, representantes do povo, a quem deve prestar contas de seus atos. Portanto, na forma da Constituição Brasileira e como é da essência dos regimes democráticos, a fonte do poder legislativo EMANA DO POVO.

Nesse contexto, o povo de Araci precisa de um legislativo mais concatenado com as necessidades mais básicas de uma gente que vive numa escassez de quase tudo. Os edis, muitos deles, ao se elegerem fazem questão de se manifestarem como oposição ou situação, o fato é: esse tipo de comportamento não é bom para a prática da boa política – a política do bem comum –. O que precisamos de fato, é de vereadores comprometidos com os interesses coletivos, que investigue as ações executadas pelo(a) gestor(a) e além disso, sejam capazes de criar leis municipais que viabilizem a convivência entre nossos concidadãos.

“O homem é por natureza um animal político (…)” (Aristóteles). Certamente que o filósofo não estava se referindo à política vivenciada em nossa contemporaneidade, e por que não dizer, politicagem. Reduzir o verdadeiro sentido da palavra colocando-se como sujeito da oposição ou situação esquecendo de posicionar-se em favor da população, é, sobretudo, uma manifestação egoísta e despolitizada.

Faz-se necessário entender, que a política é essencialmente associada à moral. Isto porque a finalidade última do estado é a virtude, ou seja, a formação moral das pessoas e o conjunto de meios necessários para que isso ocorra. Segundo Aristóteles (apud SILVEIRA, 2001, p.46), “o estado é um organismo moral, condição e complemento da atividade moral individual, e fundamento primeiro da suprema atividade contemplativa”. A política, no entanto, é diferente da moral, porquanto a moral possui como objetivo o indivíduo, e a política, a coletividade. Assim, ética é uma doutrina moral individual, e a política é uma doutrina moral social.

Isso posto, é de fundamental compreensão, que a verdadeira política é feita visando contemplar os interesses de um agrupamento de indivíduos para que assim possamos alcançar o que todos nós pretendemos, uma sociedade mais igual para todos. Não precisamos que ataque por ser oposição nem tão pouco que defenda por ser situação. Precisamos apenas que cada um deles, escolhidos para nos representar exerça o básico daquilo que lhe fôra designado e se propuseram a fazer. Ecos nas esquinas, gritos que se conflitam e ecoam em discursões rasas não contribuem em nada na promoção de políticas públicas. Penso que o povo já estar cansado do discurso do ódio exacerbado do vazio. O que queremos de fato é saber exatamente quando e onde está sendo aplicado o dinheiro público; o nosso dinheiro. — Carecemos de projetos viáveis e significativos. Programas que atendam às reais necessidades e demandas de nosso povo, estamos cansados de ações que não nos levam a nada.  Pensar em projetos irrelevantes que não causam impactos positivos em nossa sociedade é neutralizar a capacidade do poder legislativo, tornando-o decadente e sobretudo, desacreditado… Escravo de um sistema perverso que se repete e perpetua do Oiapoque ao Chuí.

Quando nos referimos a projetos irrelevantes, não significa dizer que sua insignificância se dá pelo conteúdo tratado. Apenas, entendemos se tratar de projetos de cunho pessoal e que não agregam valores sociais, daí seu desvalor. Por exemplo, projeto votado na câmara que altera o nome do mercado municipal, é um exemplo de uma manifestação desnecessária e inoportuna. Tem efeito contrário ao pretendido, causa desconforto e constrangimento à família do ex-prefeito Erasmo e seus simpatizantes.

É preciso que seja dito que longe, mas, muito longe de ser um mito, Erasmo Oliveira de Carvalho foi eleito conforme à vontade popular. Foi cassado no final do mandato e quanto a isso há controvérsias acerca dos acontecimentos que refutam sua integridade ética e moral. Desde outrora, já é notável a presença de uma política sórdida de jogo de interesses, que põe em dúvida inclusive o real motivo de sua morte. Entretanto este é um assunto que não ousamos adentrar, deixo aos mais antigos e conhecedores da História as lembras de épocas sombrias. Afinal, nós netos, nada sabemos e muitos menos provamos acerca das atrocidades que já configuravam a politicagem embrenhada nos desejos mais baixos da vontade do poder que marcaram o início de nossa História. O que temos são lembranças e o que a sabemos limita-se a falas de lamentos de nossa querida avó.

Na verdade, Erasmo foi só um prefeito que foi eleito três vezes, simples assim. E por mais que tentem de todas as formas apagar o passado com a borracha maldosa da ignorância, ele será lembrado através da História desapegada de qualquer interesse partidário. O emblema Erasmo, não some assim do dia para a noite e não precisa estar necessariamente estampado para que seja lembrado, até porque um enredo contado exatamente como ele é, não permite tal “execução”.

O ato de voltar à trás, anulando possivelmente a votação dessa proposta, não minimiza o sentimento de repulsa, uma vez que, o desejo do fazer é tão deprimente quanto a ato consumado. O desdém já está enraizado no coração destes, antes mesmo da prática. Atitudes como essa, demonstram a capacidade de muitos em sobrepor tudo e todos colocando-se acima da ética e da moral no intuito de satisfazer suas vaidades. Apresenta-se então de forma implícita inclinações totalitárias e reacionárias de indivíduos que vão na contra mão do desejo mútuo de uma convivência harmoniosa entre os seres.

Ora, sendo assim, fica registrado aqui a nossa indignação, insatisfação e sentimento de desprezo, por aqueles que num momento de ignorância, cremos, aprovaram/idealizaram tal projeto. Não pelo nome Erasmo, mas pelo desrespeito às famílias Carvalho e Oliveira, que todos nós sabemos, juntamente com outras, formam o alicerce de nossa identidade histórica.

Araci, 14 de outubro de 2020.

Carlos Klei Carvalho de Moura e Erasmo de Oliveira Carvalho Neto.

Leia também