Estudo aponta relação entre consumo em excesso de carne vermelha a maior risco de câncer em jovens

20/08/2024 01:23 • 4m de leitura

Jovens com câncer colorretal apresentam níveis mais elevados de metabólitos ligados à dieta do que pacientes com mais de 60 anos. É o que mostrou um novo estudo da Cleveland Clinic, publicada na revista NPJ Precision Oncology. Esses metabólitos, derivados principalmente da alimentação, foram relacionados ao consumo de carne vermelha e processada, sugerindo que o consumo excessivo desses alimentos pode aumentar o risco de desenvolvimento precoce de câncer colorretal. A doença afeta o intestino grosso, o reto e o ânus, geralmente se originando de mutações genéticas em pólipos, que são massas formadas na parede do trato gastrointestinal. “Sabemos que muitos cânceres podem ter algum impacto da alimentação. Mas não temos isso especificamente tão ligado, tão relacionado quanto no câncer de cólon, em que essa correlação é muito clara, até porque ele sofre ação direta dos nutrientes nessa transformação celular”, afirma Celso Cukier, nutrólogo na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo. Embora o consumo excessivo de carne vermelha já fosse considerado um fator de risco para esse tipo de câncer, anteriormente essa relação era atribuída ao alto teor de gordura saturada presente nesses alimentos. Pesquisas posteriores mostraram que tanto as gorduras quanto as proteínas da carne vermelha podem alterar o microbioma intestinal. “E isso estaria relacionado a um aumento das possibilidades do desenvolvimento do câncer colorretal”, explica Cukier.

Crescimento dos casos

No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, o colorretal é o terceiro tipo de câncer mais frequente, ficando atrás apenas de mama (73.610 casos por ano) e de próstata (71.730 casos por ano). A estimativa anual é de 45.630 novos casos da doença por ano. Embora seja mais prevalente entre os idosos, órgãos como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Instituto Nacional de Câncer (Inca) alertam para o crescimento no número de casos na população mais jovem. “Essa faixa etária já representa mais de 10% do total de casos novos dessa doença”, afirmou Anelisa Coutinho, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). Segundo ela, apesar de parte desses casos ter origem hereditária, a grande maioria é esporádica, sem fatores genéticos identificados. Uma pesquisa do Inca projetou que a probabilidade de morte prematura pela doença entre pacientes de 30 a 69 anos pode aumentar em 10% até 2030. O novo estudo aponta um possível motivo para esse aumento do risco entre jovens, além de indicar potenciais opções para diagnóstico precoce e prevenção da doença. Ainda de acordo com Anelisa, a pesquisa de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia são métodos já utilizados para a detecção precoce desse tipo de câncer. No entanto, estudos como o da Cleveland Clinic podem apontar caminhos para a inclusão de assinaturas de microbioma como biomarcadores para o diagnóstico da doença.

Alimentação é principal aliada

A Sociedade Brasileira de Patologia aponta que cerca de 30% de todos os cânceres de intestino têm como causa o sedentarismo ou a falta de uma alimentação saudável. Isso inclui o baixo consumo de fibras e a ingestão de mais de 500 gramas de carne vermelha ou processada por semana, além do excesso de bebidas alcoólicas Dessa forma, além da prática regular de atividade física, manter uma dieta equilibrada é um importante fator de proteção contra o câncer colorretal. “Quanto mais cedo trouxermos os hábitos saudáveis para nossa vida, reduziremos de forma mais consistente a manifestação desse tipo de tumor”, afirma Cukier. Recomenda-se também o consumo de nutrientes protetores da microbiota intestinal e do organismo, de forma geral. Os principais, no caso do câncer de intestino, são os minerais e as fibras. O cálcio é encontrado em laticínios, em verduras verde escuras e no gergelim, por exemplo. Já o magnésio está presente em grãos integrais e nas oleaginosas, isto é, nas amêndoas, nozes e castanhas. As fibras também estão presentes em leguminosas, grãos integrais, frutas, verduras e legumes. “Esse é um fator modificável, ou seja, embora complexo, medidas educativas e regulatórias podem contribuir para uma redução desse fator de risco”, conclui Anelisa.

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