Na região onde estão as cidades mais frias do Brasil, em Santa Catarina, os termômetros chegaram a marcar -7,8ºC no amanhecer desta quarta-feira (28), no município de Bom Jardim da Serra. Em meio à onda de frio extremo que atinge o país, a região ainda não teve registro de neve, mas as paisagens congelaram com as mínimas negativas. A temperatura mais baixa foi registrada na localidade conhecida como Morro da Igreja, a cerca de 1.800 m de altitude. Em Urupema, a mínima foi de -7,3ºC, enquanto em São Joaquim os termômetros marcaram -5,8ºC e, em Urubici, -5,6ºC. A Defesa Civil de Santa Catarina aponta que 51 municípios monitorados no estado tiveram temperaturas negativas. O órgão diz que não descarta que as temperaturas podem ter ficado abaixo de zero também em outras localidades sem estações meteorológicas. Segundo cálculos da MetSul, empresa de meteorologia, a sensação térmica na região do Morro da Igreja, que fica em uma área pertencente à Aeronáutica, chegou a -20ºC nesta quarta. A temperatura de -7,8ºC igualou a mínima recorde de julho no local que havia sido registrada em 2013, ainda de acordo com análise da empresa, o que indicaria a “grande e incomum intensidade da massa de ar frio de origem polar” presente agora no país. Essa massa de ar frio, com características de ar polar, que começou ainda na terça-feira (27), já está instalada na região Sul, segundo o Epagri/Ciram (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina), com condições de neve em algumas cidades. “Para ocorrer neve, as temperaturas não precisam ser muito baixas, basta estar entre -1ºC e 1ºC e haver umidade no ar”, afirmou a meteorologista Marilene de Lima. “Depois, o ar seco se instala e passa a ter condições para formação de geada”. Ela ressalta ainda que uma particularidade dessa massa de ar frio é que ela permanece no período da tarde, quando são registradas as temperaturas mais altas do dia. As cidades conhecidas por terem as mínimas mais baixas do país estão com hotéis e pousadas já lotados de turistas em busca de neve e de testemunhar as árvores e paisagens cristalizadas. As árvores costumam ser molhadas para criar o efeito de congelamento que aparece nas fotos. Juliano Schweitzer, professor de história e dono da pousada Rota das Cachoeiras, em Urupema, diz que, se confirmadas as previsões, o frio desta semana pode ser comparado a outros registros históricos que ficaram na memória dos moradores do município, nas décadas de 1950 e 1970. “A gente tem um certo cuidado com a pandemia, mas no geral a procura é imensa”, diz ele. “Muita gente não vem só pela neve, mas pelo sossego e as particularidades da região.” Em São Joaquim, a procura por hospedagem para ver o frio de perto também é alta e as vagas estão esgotadas, mesmo com hotéis, pousadas e as chamadas pousadas alternativas (onde moradores alugam cômodos em suas casas) operando com capacidade total, sem limitação pela pandemia do novo coronavírus. Ana Karina Reichert, auxiliar de contabilidade, passou a alugar uma parte da própria casa, onde vive com o marido e dois filhos, para turistas em 2018. Nesta quarta, as seis vagas disponíveis para aluguel de temporada já estavam ocupadas e o local tem lotação completa até 10 de agosto. “Tem gente do Maranhão, [de outros estados do] Nordeste, de São Paulo, este mês está cheio, cheio, porque os hotéis não têm mais leitos”, diz ela. De acordo com a Climatempo, há condições para ocorrência de neve no começo da madrugada de quinta -feira (29) nas serras gaúcha e catarinense e nas regiões de planalto dos dois estados, além de geada generalizada nos três estados da região Sul, no sul e leste de Mato Grosso do Sul e em pontos de São Paulo.