Marie Okabayashi de Castro Lemos, 23, é estudante de direito da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e descendente de japoneses. Na linha 1 do metrô, no Rio de Janeiro, ela foi xingada de “chinesa porca” por uma mulher. A situação mostra o preconceito e o desconforto que já começam a ser vivenciados pela comunidade oriental no Brasil conforme cresce no mundo o surto do novo coronavírus chinês, que já causou, até domingo (2), 362 mortes e mais de 17 mil infecções. “Ela falou que eu ficava espalhando doenças para todos e me chamou de nojenta. Teve um momento em que eu já estava indo para a escada rolante e ela ficou me acompanhando pela janela do metrô e me mostrando o dedo do meio, aparentemente berrando várias coisas. Ela estava em total estado de fúria e descontrole apenas com a minha presença”, disse. A estudante conseguiu filmar algumas das ofensas com o celular. No Twitter, Lemos conta que, antes de começar a gravar, ouviu a mulher dizer coisas como “quando eu vejo um chinês eu atravesso a rua”, “não compraria uma coca fechada desse povo, porque eles contaminam tudo”, “os coreanos, tailandeses e esse resto também são um horror, invadem nosso país, roubam os empregos do nosso povo e espalham doenças”. Em São Paulo, a professora de mandariam Si Liao, 32, que vive em São Paulo desde 2011, queria comprar máscaras descartáveis para guardar em caso de necessidade, mas não teve coragem de ir à farmácia. Ela teme a reação das pessoas devido ao surto do novo coronavírus. “Li que nos Estados Unidos as máscaras estão acabando e quis comprar uma para mim. Mas tenho medo de entrar na farmácia e, por ser chinesa, as pessoas acharem que eu tenho o coronavírus”, afirma. Na capital paulista, as farmácias já estão sem estoque de máscaras. A solução foi comprar uma caixa pela internet. Segundo ela, por enquanto a orientação nos grupos de chineses que vivem em São Paulo é de não usar máscaras para não assustar as pessoas na rua. Aqueles que voltam agora de uma temporada no país de origem estão seguindo as orientações de ficarem em casa por duas semanas, mesmo sem apresentar sintomas. “Eu também fiquei com um pouco de medo, mas todo mundo está colaborando”, diz.