Em depoimento à Polícia Federal, o delegado Ricardo Saadi afirmou nesta segunda-feira (11) que a sua saída da Superintendência do Rio de Janeiro, em agosto 2019, não foi justificada à época pelo então diretor-geral, Maurício Valeixo. Saadi disse à PF, segundo depoimento obtido pela reportagem, que Valeixo, exonerado em 24 de abril por Jair Bolsonaro, telefonou para ele, em 15 de agosto do ano passado, dizendo que iria adiantar os “planos de troca” no comando da PF no Rio, “não revelando eventuais razões para tanto”. No mesmo dia, o presidente da República havia declarado, em Brasília, que trocaria a direção da corporação no estado. A oitiva de Saadi faz parte de inquérito que apura se o presidente da República tentou interferir indevidamente na corporação, conforme acusação do ex-ministro Sergio Moro. A Superintendência do Rio foi apontada por Moro como um dos principais movimentos de tentativa de ingerência de Bolsonaro na PF. O ex-juiz deixou o comando da pasta da Justiça no dia 24 de abril. Questionado se acredita que sua saída tinha fundo político, Saadi afirmou que os motivos não lhe foram apresentados. Ele foi exonerado em 30 de agosto, dias após Bolsonaro ter afirmado publicamente que iria substituí-lo por um delegado de Manaus, por problemas de “gestão e produtividade”. Saadi disse que, assim que Valeixo assumiu a direção-geral, foi procurado por ele para falar sobre a Superintendência do Rio, que ele comandava desde a gestão anterior. O delegado explicou ao diretor-geral que gostaria de ser transferido para São Paulo ou Brasília, por questões familiares. Valeixo, então, pediu para ele ficar em 2019 e que em 2020 o levaria para Brasília. De acordo com o depoimento, o planejamento mudou no dia 15 de agosto, quando recebeu uma ligação de Valeixo afirmando que o transferiria para a capital federal. Segundo Saadi, Valeixo “se reservou a afirmar que teria havido esse pedido; não esclarecendo a sua origem nem outros detalhes”. No mesmo dia, a PF divulgou nota informando que a substituição de Saadi já estava prevista havia algum tempo e nada tinha a ver com o desempenho profissional dele. “A troca da autoridade máxima do órgão no estado já estava sendo planejada há alguns meses, e o motivo da providência é o desejo manifestado, pelo próprio policial, de vir trabalhar em Brasília, não guardando qualquer relação com o desempenho do atual ocupante do cargo”, dizia a nota da PF. Saadi negou ter tido problemas de desempenho à frente da gestão no Rio e que não sofreu interferências nas investigações. Ele contou ainda que “nem o presidente da República Jair Bolsonaro, nem o ex-ministro da Justiça Sergio Moro solicitou direta ou indiretamente ao depoente relatórios de inteligência”. O depoimento dele é um dos três colhidos pela PF nesta segunda. Também falaram à polícia o delegado Alexandre Ramagem, diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), cuja nomeação para o lugar de Valeixo foi barrada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) diante de indícios de desvio de finalidade. E o próprio ex-diretor-geral da PF, que falou em Curitiba. Valeixo contou que Bolsonaro lhe disse não ter nada contra a sua pessoa, mas que buscava um diretor com quem tivesse mais “afinidade”. No depoimento, questionado sobre a sua concepção de interferência política na PF, o ex-diretor disse que ela não chegou a ocorrer na prática durante a sua gestão, já que não foi efetivada nenhuma nomeação “com interesse sobre uma investigação específica”. Nesta terça (12), estão previstas oitivas de três ministros militares citados por Moro: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).