“Covid-19: A verdadeira ameaça”; artigo de Carlos Kley

15/04/2020 07:50 • 6m de leitura

O desrespeito ao toque de recolher em tempos de nuvens sombrias, expõe uma nefasta manifestação do ser, uma ignorância que tem caracterizado abruptamente os indivíduos.

Os intelectuais das redes sociais, essa casta que involuntariamente levanta críticas contra tudo e contra todos ataca com sua metralhadora fulminante e com suas teorias inebriantes alicerçadas apenas no doxa – vagas opiniões… – , são incapazes de compreender a importância e a necessidade do isolamento empregado em todo mundo.

Esse povo, essa casta (casta aqui no sentido da impossibilidade da ascensão, tal como acontecia no feudalismo), a estes, pertence a incapacidade de evoluir em conhecimento e ascender-se a um estado mais elevado, encontram-se presos em suas verdades, presos na “ciência” do achismo e refuta contra tudo, e exatamente agora, colocam-se contra a única arma que temos para combater o obscuro que nos assombra, a única que em meio ao caos tem demonstrado sua eficácia, ou seja, o isolamento social.

É importante salientar aqui, que minha crítica cibernética vai diretamente aos especialistas do CTRL + C e CTRL + V. Estes disseminam irresponsavelmente Fakes News que na maioria das vezes nem são lidas, muito menos tem sua veracidade apurada. Esse tipo mecanizado de ser merece o desprezo deve ser lançado ao esquecimento. Atrapalham o andamento do processo inviabilizando as práticas necessárias e verdadeiramente eficazes promovidas pelos profissionais de saúde.

A desconsideração com o outro, a não importância com a vida do semelhante nos reduz a uma espécie decadente de ser e nos coloca como seres incapazes de viver e praticar o cristianismo verdadeiro, do amor ao próximo. “Amai-vos uns aos outros como a ti mesmo”, parece agora ser a cruz daqueles indivíduos que se autodenominam cristãos, parece que a sua fé inabalável é agora fragilizada pela simples indigência da supressão dos desejos individuais em favor de um interesse coletivo.

A necessidade coletiva parece ser desprezada, a ética da boa convivência, os valores morais são todos substituídos por manifestos egoístas enquanto perecemos nos meandros de nossa própria arrogância. Quando um indivíduo é incapaz de viver eticamente e impede ações para o bem comum, este, tornar-se-á indecente, repugnante, desprezível (…), porém, perigoso. A esse tipo não resta senão, a opressão, elemento indispensável para combater sociedades ultrajadas de ética e moral. Desse modo quiçá, possamos evoluir de um estado condescendente de uma consciência nunca antes atingida para um patamar real e de interesse de todos.

Em meio a isso tudo, acho engraçado o fato de que ficam perambulando por aí, muitos daqueles que em suas “social pages” estampam de forma contundente o slogan #fiqueemcasa, uma campanha que representa senão uma transferência de responsabilidades uma vez que o sujeito replicante é incapaz de cumprir suas próprias determinações. O egocentrismo predominantemente visível, o desinteresse no outro, a negação do amor com o próximo (…) todos esses desvalores imperantes torna-se visível no descumprimento de decretos e medidas públicas que viabilizam a prevenção do pior.

Evidencia-se então, que nesta e em qualquer outra situação calamitosa, precisamos em momento primeiro, exaurir os anseios populares individualistas em favor da ordem para o bem comum, uma vez deslumbrado o comportamento depreciável do indivíduo – o animal humano – frente a um mal ainda desconhecido, assustador e de proporções devastadoras.

As justificativas fundamentadas nas estatísticas de mortes por diversos motivos como por exemplo, acidentes de carros, assassinatos, tabagismos etc…, com a alegação de que esses números são maiores que aqueles até aqui demonstrados pelo vírus que nos assola, não devem ser implementadas como pretextos para que a população permaneça indiferente nas ruas. Todos esses indicadores, revelam problemáticas já conhecidas e que de certa forma são tratadas em nossas sociedades através de campanhas preventivas e ações de combate, e nelas, mais uma vez, manifesta-se insistentemente o homem enquanto protagonista de sua própria decadência.

Logo, a questão que aqui se apresenta, é o fato de lidarmos com o desconhecido e ainda não termos respostas cientificas que garantam a erradicação e acalme todo frenesi causado pela COVID-19. E enquanto isso, por nada sabermos efetivamente, todas essas manifestações de desvalorização das práticas implantadas, não sugerem outra coisa, senão o uso das forças. Só assim, poderemos superar àqueles que marcham na contra mão do bem comum, da coletividade, conduzidos por um juízo individualizado que se reduz a nada, incapaz de perceber que sua estúpida retórica é um mal desnecessário em nossos dias.

Essa estupidez não deve e não pode ter descendido dos macacos, estes, estão num nível bem superior, dão arrimo à suas crias e protegem seu bando. Enquanto isso, o homem moderno, resultado e um processo civilizatório, – a besta humana – , imerge descontroladamente e só rumo ao abismo, ao seu próprio fim.

Esse bordão “Fica em casa”, deve ser hoje uma bandeira sustentada por todos, uma condição necessária, entretanto ainda não suficiente para atingirmos a eficiência, faz-se necessário independentemente de viés partidários ideológicos, que a população entenda as mensagens proferidas pelo executivo cumprindo-as. É importante compreender a magnitude do caos que nos atinge. O vírus não tem religião nem classe social, devora a todos com igual competência, e até agora, a nossa concretude se baseia em números que só crescem e nos assustam cada dia.

Temos como armas, apenas duas ferramentas, primeiro: o refúgio em nossas próprias casas (que na ausência da consciência, deveria ser à revelia da coerção) e segundo: o clamor à Deus. Esta última, já não me apresenta tão eficaz, visto o nosso comportamento questionável frente à ética cristã, a nossa independência do divino acontecida ao longo dos tempos, marcadas por manifestações de ações que contradizem e até negam os ensinamentos anunciados por aquele que nos foi enviado, devido também ao fato de que em toda a história promovemos sua ressignificação à nossa imagem e semelhança, implementamos novos valores e criamos o Deus customizado à nossa serventia, completamente transfigurado (desvinculado) e o que teríamos seria apenas um clamor intercedido pela insegurança, pelo medo desesperado de muitos que ao longo dos tempos tem o renegado.
Sendo assim, nos resta tão somente, ficar em casa.

Texto de Carlos Klei Carvalho de Moura.

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