O Brasil chegou, no ano passado, a 9,14% da sua população com mais de 18 anos vivendo com diabetes. Em 2020, esse índice era de 8,2%, ou seja, houve um aumento de 11,47%. Assim, o país já conta com cerca de 15 milhões de adultos convivendo com a doença, que anualmente causa 6,7 milhões de mortes em todo o mundo. Os dados são do Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por inquérito Telefônico) 2021, pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde para colher informações sobre fatores de risco de saúde da população. Após um atraso na divulgação dos dados de 2020 durante a pandemia, os resultados da edição de 2021 foram publicados na última quinta-feira (7), na Plataforma Integrada de Vigilância em Saúde (Ivis). Foram ouvidas 27.093 pessoas com 18 anos ou mais em todas as capitais brasileiras e no Distrito Federal entre setembro de 2021 e fevereiro de 2022. Em 2019, antes da pandemia, a taxa de adultos com diabetes era ainda menor, de 7,45%. Como o Vigitel 2020 foi afetado pela pandemia, com um número bem menor de entrevistas realizadas no período pré-pandêmico, a comparação mais equitativa é com os dados de 2019. Sendo assim, o aumento comparativo em dois anos foi de quase 23%. Apesar de ser um número significativo, especialistas afirmam que ele pode ainda ser subnotificado, pois muitos casos de diabetes não são devidamente diagnosticados. “É importante ressaltar que os indicadores de saúde na pesquisa são autorreferidos, isto é, não há medição de índice de glicose ou de pressão arterial, então esses números com certeza são subdiagnosticados”, explica Deborah Malta, pesquisadora e professora da Escola de Enfermagem da UFMG e ex-coordenadora do Vigitel (2006 a 2015). Nos últimos anos, a proporção de mulheres (9,61%, em 2021) convivendo com diabetes é maior do que a de homens (8,58%, no mesmo ano), mas isso se deve principalmente ao fato de mulheres cuidarem mais da saúde e procurarem atendimento médico mais cedo. Essa preocupação aparece também nos brasileiros que vivem com hipertensão. Durante a pandemia, aumentaram os casos de infarto em mulheres jovens, e a pesquisa Vigitel também encontrou uma maior proporção de mulheres com pressão alta, de 27,13%, contra 25,41% dos homens, em 2021. Apesar disso, o aumento relativo foi maior entre os homens, que passaram de 21,21%, em 2019, para 25,41% em 2021, um aumento de quase 20%. Ao todo, mais de um quarto (26,34%) da população adulta tinha hipertensão arterial em 2021, um aumento de quase 7,5% em relação ao período pré-pandemia (24,52%). Os brasileiros também ganharam peso nos dois últimos anos de pandemia. Em 2019, o índice de pessoas com excesso de peso (índice de massa corpórea, medido pelo peso dividido pela altura, igual ou maior a 25) era de 55,37%, passando para 57,47%, em 2020, e 57,25%, em 20201. Em relação à obesidade, a taxa de adultos obesos (IMC igual ou maior a 30) em 2019 era de 20,27%, passando para 22,35% em 2021. Em 2020, era de 21,55%. O quadro preocupa mais em relação aos homens. Neles, o crescimento de 2019 para 2021 foi de quase 13%: de 19,5% para 22,02%. “Vimos uma piora geral dos indicadores de saúde nos homens. Aumentou o peso, aumentou hipertensão arterial, piorou a prática de atividade física. Já nas mulheres o que me preocupa foi a queda no número de mulheres que fez mamografia ou citologia oncológica [papanicolau] nos dois anos de pandemia”, diz Malta. Brasileiros praticam menos atividade física Desde 2016, a quantidade de brasileiros com sobrepeso vem crescendo anualmente. Paralelamente, a parcela de adultos que gasta no mínimo 150 horas semanais para prática de atividades físicas no tempo livre caiu. A população fisicamente inativa, que era 13,91% em 2019, foi para quase 16% em 2021, enquanto a prática insuficiente de atividade física, um indicador que é utilizado pela Organização Mundial da Saúde para avaliar fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis (DNCs), aumentou de 44% para 48%. “Quase metade da população brasileira hoje não pratica atividade física suficiente. E isso vem em um momento de aumento de desemprego, de sedentarismo, aumentou o tempo gasto com televisão ou telas de computador, de 62% para 66%… Ou seja, tudo piorou”, afirma a pesquisadora. Para Malta, é imprescindível que o debate sobre prevenção e promoção de saúde retorne após o período mais agudo da pandemia. Segundo ela, se durante a pandemia o foco foi tratamento e prevenção de Covid, agora é necessário se concentrar novamente nas DNCs. “É preciso preparar o serviço de saúde, procurar capacitar melhor os profissionais de saúde e campanhas voltadas para a comunidade mostrando os riscos da má alimentação, falta de atividade física. Diversos estudos já falam de uma quarta onda da pandemia, que é o aumento de doenças crônicas, e uma quinta, que seriam as sequelas e os efeitos na saúde mental”, completa.