De pinturas despretensiosas feitas em uma casa em Capim Grosso, no sertão da Bahia, para o Carroussel do Louvre, espaço que fica abaixo do famoso museu na França. A reação do artista plástico baiano, Eduardo Lima, ao ver suas obras no museu mais famoso do mundo, viralizou nas redes sociais. Com mais de 40 mil visualizações em uma delas, a emoção reflete a trajetória do ex-frentista que hoje vive de arte. O vídeo foi gravado na sexta-feira (20), pela esposa do artista, Cida Lima. A filmagem foi feita quando Eduardo chegou em Paris, capital francesa, e viu pela primeira vez a sua série de quadros exposta nas proximidades da área onde está a Monalisa. “Quando pisei no museu, já fui lembrando de toda a minha trajetória. Ex-frentista, sem patrocínio nenhum, muitas dificuldades. Fomos juntando moeda por moeda para chegar até aqui”, contou. As obras do baiano retratam o dia a dia de muitos brasileiros: os nordestinos. A exposição no Louvre conta a história de brincadeiras infantis comuns nessa região do Brasil, como o telefone sem fio. “Ser selecionado para expor minha arte em um dos maiores museus do mundo é grandioso! Quero que os jovens que sonham viver de arte acreditem nos seus sonhos e jamais desistam”, disse.
Essa não é a primeira exposição de Eduardo. No Brasil, ele já levou suas obras para diversas instituições culturais de Salvador e também para São Paulo. No exterior, ele tem quadros espalhados por mais de 25 países e fez uma exposição em Londres no ano passado. Colhendo os frutos da persistência, a história do baiano na arte começou há 25 anos, bem longe das terras francesas.
De frentista a artista
Para Eduardo, pintar e desenhar era um hobbie. Autodidata, ele fazia bonecos de barro enquanto esperava o pai finalizar o trabalho na olaria em Capim Grosso e desenhava os personagens preferidos dos programas de televisão. A vida seguiu, as obrigações bateram na porta e o hobbie ficou de lado, até que um acidente de carro o afastou temporariamente do trabalho como frentista e o fez ter muito tempo ocioso. Foi então que o baiano reencontrou a arte e passou a pintar quadros para decorar a casa em que vivia com a esposa Cida e os dois filhos, que na época eram crianças. “Eram quadros de paisagens. Meus amigos perguntavam se eu venderia, acho que eles nem acreditavam que eram meus. Comecei a vender para eles e com o dinheiro comprava mais materiais para pintar”, contou.
Há mais de 20 anos, no início dos anos 2000, Eduardo decidiu pedir as contas no posto de gasolina em que trabalhava há quase uma década para investir na carreira de artista. Com o dinheiro que recebeu após a saída, ele comprou um carro, colocou as telas dentro do veículo e rodou o sertão baiano vendendo suas artes para empresas, clínicas e escritórios de advocacia. “Passamos perrengue, dormimos no chão, fomos expulsos de praças, o carro pegou fogo… Pensei em desistir, mas a arte sempre me chamava de volta”, disse. As redes sociais deram o empurrãozinho que Eduardo precisava. Quando a foto de um de seus quadros viralizou, ele começou a ter admiradores de diversas regiões do Brasil e a receber propostas de vendas e exposições.
Com 130 mil seguidores em um dos perfis, o baiano conta com a ajuda dos filhos para fazer as postagens. Foram eles quem compartilharam o vídeo do pai emocionado, após receber a filmagem da mãe, que até comentou que “não sabia se era uma boa ideia postar”. “Foi um momento muito verdadeiro, de muita emoção, gratidão e respeito. Desde o primeiro traço que ele fez, quando a gente ainda namorava, sabia que ele tinha algo especial”, disse a esposa de Eduardo, Cida Lima. Se a primeira tela vendida para um desconhecido custou R$ 100, atualmente o baiano tem obras de R$ 12 mil. Quem curte o trabalho, mas ainda não pode adquirir uma das telas ou esculturas, tem a possibilidade de comprar pôsteres, chinelos, canecas, camisas e outros objetos com as estampas de obras feitas pelo artista. Depois de pintar no quintal, na garagem e em outros cômodos da casa, hoje Eduardo tem seu próprio ateliê em Barreiras, no oeste da Bahia, cidade em que vive com a família. Assim como ele retrata nas obras, o caminho do sertanejo não foi fácil, mas com um sorriso no rosto e determinação, é possível chegar longe – inclusive no Louvre.
G1-BA*