Baiana de Feira de Santana vai percorrer 1700km de mula; conheça a história

24/07/2024 06:26 • 3m de leitura

No dia 3 de julho, 12 muladeiros, como são chamados os condutores de mulas, saíram do município de Pé de Serra, no nordeste baiano com destino a Barretos, em São Paulo. O objetivo deles é participar da tradicional Festa do Peão de Barretos, realizada entre 15 e 25 de agosto. Apenas uma mulher integra a equipe: a vendedora Marinalva Carneiro, de 71 anos. Natural de Feira de Santana, ela é conhecida como a “Mulher do Jegue”. A história começa com a ida Marinalva para Pé de Serra, para acompanhar o evento de despedida dos viajantes. Ela seguiu com o grupo até o município de Ipirá, onde foi convidada por Marinho Fernandes, organizador da viagem, para seguir com eles até Barretos.

“Mas eu não tinha condições de pagar a viagem, então ele disse que pagaria tudo. Nisso, voltei para minha casa, peguei algumas coisas e encontrei com eles em Itaberaba. Precisei pedir folga do trabalho e renunciei a outros eventos de cavalgadas em que seria madrinha para realizar esse sonho”, conta. Atualmente, o grupo está no município de Porteirinha, em Minas Gerais. Eles já percorreram cerca de 769 quilômetros dos 1.771km previstos na viagem. Os quase 20 dias de viagem montada não abatem Marinalva, que se mantém firme na missão de chegar até a Festa do Peão.“Eu não deixei de montar nenhum dia e só paro quando chegar lá. Me sinto representando todas as mulheres que gostam de montaria, mostrando que consigo vencer esse desafio. Eu também motivo o pessoal que, quando pensa em desistir, vê uma senhora de quase 72 anos firme na missão e continua. Além disso, nós estamos sempre brincando e levantando a moral do grupo”, diz. Marinalva acompanha eventos de montaria desde 2001. No começo, ela seguia o esposo, que ia montado em um cavalo com o neto. Durante uma ida para Pé de Serra, ela viu um rapaz com um jegue, que chamou sua atenção e fez uma proposta ao jovem. Mas ele recusou, pois o animal pertencia ao seu avô. Mesmo assim, Marinalva não desistiu e deixou o contato, caso ele mudasse de ideia.

“Menos de duas semanas depois, ele me ligou dizendo que o avô ficou doente e que precisava vender o jumento para comprar a medicação. Ele me disse que o preço seria R$ 350 e eu, rapidamente, fui buscar o jumento”, lembra.Após comprar o animal, ela participou de feiras e cavalgadas acompanhando grupos de montadores. Pouco tempo depois, decidiu entrar em competições de montaria, colocando o jumento contra cavalos Manga-larga Marchador, raça mais comum nesse tipo de evento. As participações e vitórias lhe renderam o apelido de “Mulher do Jegue”. “Os pais das outras amazonas me viam montada no jumento e, quando elas perdiam para mim, brigavam com elas e com o juiz, pedindo para tirar a ‘Mulher do Jegue’ da competição. Esse apelido é um motivo de orgulho, porque montar é algo que me faz muito bem, é uma sensação tão boa que você esquece de todos os problemas”, afirma.Os cavaleiros baianos estão acompanhados de um grupo de apoio que conta com veterinário e ferreiro. Um caminhão transporta medicamentos, alimentos e uma parte dos animais. São 19, que caminham em esquema de revezamento: descansam, em média, 36 horas, depois de sete horas caminhando. O percurso é trilhado, na maior parte do tempo, em estradas de terra. O cotidiano da aventura é compartilhado no perfil do Instagram @selavaqueira.

Correio*

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