

A Havaianas, uma das marcas brasileiras mais conhecidas no mundo, passou a ser alvo de uma tentativa de boicote após a veiculação de um novo comercial estrelado pela atriz Fernanda Torres. A reação partiu de políticos e militantes ligados à direita, que interpretaram a mensagem da campanha como uma crítica ideológica. O episódio ganhou força no último domingo (21), e rapidamente se espalhou pelas redes sociais. Com a repercussão, aumentou também o interesse do público sobre quem controla a Havaianas e quais grupos empresariais estão por trás da marca. A discussão deixou o campo publicitário e avançou para o debate político e econômico, levando consumidores a associarem a peça publicitária à trajetória dos acionistas da empresa.
A Havaianas é controlada pelo grupo Alpargatas, companhia fundada em 1907 e com atuação histórica no setor de calçados. O controle da empresa passou por diferentes grupos ao longo das últimas décadas, refletindo mudanças relevantes no mercado brasileiro. Entre 1982 e 2015, a Alpargatas esteve sob o comando do grupo Camargo Corrêa. Em meio às investigações da Operação Lava Jato, o conglomerado decidiu vender sua participação, transferindo o controle para o grupo J&F, controlador da JBS. Posteriormente, a própria J&F enfrentou problemas judiciais, o que levou a uma nova reorganização societária. Desde 2017, o controle da Alpargatas passou a ser exercido por um consórcio formado pela Cambuhy Investimentos, pela Itaúsa e pela Brasil Warrant. A Brasil Warrant pertence à família Moreira Salles, que se tornou a principal referência no comando da companhia.
A família Moreira Salles figura entre as mais ricas e influentes do país, com um patrimônio estimado em cerca de R$ 120 bilhões. O grupo possui participações relevantes no Itaú Unibanco, além de controle da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração responsável por cerca de 75 por cento da produção mundial de nióbio. Além do setor financeiro e mineral, a família mantém investimentos no agronegócio, com plantações de laranja e café no interior de São Paulo. Esse conjunto de ativos consolidou o grupo como um dos principais atores econômicos do Brasil, o que ampliou a visibilidade da polêmica envolvendo a Havaianas.
A controvérsia teve origem em um comercial protagonizado por Fernanda Torres, no qual a atriz faz uma reflexão sobre o início do ano e o significado de sorte e atitude. A mensagem foi interpretada por setores da direita como uma crítica indireta a valores defendidos por esse grupo político. “Desculpa, mas eu não quero que você comece 2026 com o pé direito. Não, não é nada contra a sorte, mas vamos combinar: sorte não depende de você, depende, depende de sorte. O que eu desejo é que você comece o Ano Novo com os dois pés. Os dois pés na porta, os dois pés na estrada, os dois pés na jaca, os dois pés onde você quiser. Vai com tudo, de corpo e alma, da cabeça aos pés” A leitura política da peça levou à mobilização por boicote à marca, com críticas direcionadas tanto à mensagem quanto aos controladores da empresa. A discussão se intensificou pelo fato de Fernanda Torres ter sido protagonista do filme Ainda estou aqui, dirigido por Walter Salles, integrante da família que controla a Havaianas.
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