4,2 milhões de alunos estão em atraso escolar no Brasil, mostra levantamento do Unicef

26/09/2025 10:14 • 5m de leitura

Em 2024, cerca de 4,2 milhões de estudantes brasileiros estão com dois anos ou mais de atraso escolar, o que representa 12,5% das matrículas em todo o país, segundo análise do Censo Escolar, realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Apesar da redução em relação a 2023, quando o índice era de 13,4%, o número ainda indica desafios significativos no enfrentamento da distorção idade-série na educação básica. As informações são da Agência Brasil. O atraso escolar, embora presente em toda a população estudantil, manifesta-se de forma desigual quando analisado por raça e gênero. Entre estudantes negros, a distorção idade-série atinge 15,2%, quase o dobro do registrado entre alunos brancos, que é de 8,1%. Além disso, o fenômeno afeta mais meninos (14,6%) do que meninas (10,3%), evidenciando barreiras estruturais e sociais que influenciam a trajetória escolar.

Desafios e causas do atraso escolar

Especialistas da Unicef apontam que o atraso escolar não deve ser interpretado como falha exclusiva do estudante, mas sim como resultado de um conjunto de fatores sociais, econômicos e institucionais. Questões como desigualdade socioeconômica, falta de acompanhamento familiar, infraestrutura escolar inadequada e ausência de políticas públicas efetivas contribuem para que muitos alunos acumulem reprovações e se sintam deslocados no ambiente escolar. “Quando a gente fala em fracasso escolar, muitas vezes a gente responsabiliza o estudante, né? A gente precisa entender isso como uma cultura, como um conjunto de fatores que faz ou que contribui para que esses meninos e meninas comecem a reprovar, que eles entrem em uma situação de atraso escolar ou uma situação de distorção idade-série e fiquem mais propensos a abandonar a escola”, disse a  especialista de educação do Unicef no Brasil, Julia Ribeiro. Pesquisas recentes indicam que a escola, embora seja o espaço onde crianças e adolescentes passem grande parte do tempo, ainda tem dificuldades para se conectar com a realidade dos estudantes. Um levantamento do Unicef e do Instituto Ipec, realizado em 2022, apontou que 33% dos adolescentes acreditam que a escola desconhece a sua vida e a de suas famílias. Essa percepção de desconexão aumenta o risco de evasão e reduz o sentimento de pertencimento, dificultando a permanência e o progresso no ensino. “A escola é o espaço que os estudantes passam mais tempo de sua vida, é um equipamento público que está presente em todos ou em quase todos os territórios. Então, ela é a política pública que está mais presente na vida dessas crianças e de suas famílias. Um terço dos estudantes dizerem que as escolas não sabem nada sobre sua vida e a vida de sua família é algo que é muito forte. Certamente para os estudantes que estão em um processo de desvinculação, se perceber não tão pertencente a esse espaço é algo muito significativo”, afirma Ribeiro.

Impactos do atraso escolar e abandono

O atraso na educação está diretamente ligado ao abandono escolar, um problema que repercute ao longo da vida adulta. Embora o Brasil tenha avançado nos indicadores de escolaridade, muitos adultos ainda não possuem ensino médio completo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2024, 56% da população adulta (com 25 anos ou mais) completou o ensino médio, o maior percentual da série histórica, em comparação aos 46,2% registrados em 2016. A maior escolaridade impacta diretamente a inserção no mercado de trabalho, possibilitando salários mais elevados e melhores condições socioeconômicas. Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), possuir diploma de ensino superior no Brasil pode mais que dobrar o salário, demonstrando a importância do combate ao atraso escolar desde a infância e adolescência. “Acreditamos na mudança e na transformação social por meio da educação e para alcançar esse objetivo é fundamental conhecer os desafios para estabelecer estratégias de enfrentamento. Trajetória de Sucesso Escolar do Unicef vem fazendo isso com excelência, oferecendo uma visão ampla do cenário atual e uma nova perspectiva para milhões de estudantes”, diz a diretora de Desenvolvimento Humano Organizacional, Cultura e Sustentabilidade da Claro e vice-presidente do Instituto Claro, Daniely Gomiero

Estratégias de enfrentamento ao atraso escolar

Para reduzir a distorção idade-série e promover trajetórias educacionais bem-sucedidas, o Unicef, em parceria com o Instituto Claro e com o apoio da Fundação Itaú, desenvolveu a estratégia “Trajetórias de Sucesso Escolar”. O programa busca orientar políticas públicas e práticas escolares para enfrentar a cultura de fracasso, garantindo acompanhamento, monitoramento e implementação de ações que valorizem a permanência e o progresso dos estudantes nas redes públicas de ensino. A iniciativa também visa identificar os desafios específicos enfrentados em diferentes regiões e grupos sociais, proporcionando uma abordagem personalizada e inclusiva, adaptada às necessidades de cada comunidade.

Muita Informação*

Leia também