Vivemos em um Brasil que avança em sua expectativa de vida, mas ainda patina na qualidade do envelhecimento. A longevidade, celebrada como triunfo da ciência e da medicina, não pode ser acompanhada de um declínio inevitável em saúde e bem-estar. Planejar a fase idosa é mais do que um ato de cuidado consigo mesmo; é um compromisso com a dignidade e a plenitude da existência. A inatividade física é um dos grandes vilões da saúde, impactando gravemente os sistemas cardiovascular, respiratório, musculoesquelético e metabólico. O sedentarismo alimenta doenças crônicas como hipertensão e diabetes, que, em conjunto, comprometem a autonomia do idoso. Estima-se que mais de 47% da população brasileira não se exercita regularmente, um dado alarmante para a saúde pública. Incorporar exercícios leves, como caminhadas diárias, deve ser tão essencial quanto a escolha de uma alimentação equilibrada. Entretanto, não basta movimentar o corpo. A alimentação equilibrada é a base para um envelhecimento saudável. O consumo excessivo de ultraprocessados e o descuido com a nutrição abrem caminho para problemas como obesidade e desnutrição, frequentemente subdiagnosticados em idosos. Ao combinarmos pratos ricos em nutrientes com um acompanhamento médico, podemos prevenir e controlar doenças crônicas, assegurando mais vitalidade. Outro ponto crucial para um envelhecimento pleno é cuidar da mente e do espírito. Relações interpessoais saudáveis, sejam com amigos, familiares ou vizinhos, são uma das chaves para evitar a solidão, um grande inimigo oculto da terceira idade. Estudos comprovam que idosos com redes de apoio têm menores taxas de depressão e maior bem-estar. Além disso, a espiritualidade — seja pela fé ou pela conexão com o sentido da vida — ajuda a enfrentar os desafios emocionais que podem surgir com o passar dos anos. Enquanto indivíduos, cabe a nós preparar o terreno para um envelhecimento digno e feliz. Mas é preciso reconhecer que o envelhecimento populacional traz desafios sociais e econômicos que demandam atenção. O aumento da população idosa impactará os sistemas de saúde e previdência, exigindo políticas públicas inovadoras e sustentáveis. Se não agirmos agora, os custos de um sistema de saúde sobrecarregado e as lacunas no cuidado poderão comprometer o bem-estar das futuras gerações. A fase idosa não é um fim, mas um ciclo cheio de potencial. Reconhecê-la como uma etapa de crescimento pessoal e de contribuição para a sociedade exige preparo, ação preventiva e um olhar renovado – valorizando o cuidado integral. Com esforço coletivo, é possível garantir que essa fase seja vivida com dignidade e propósito.
Artigo publicado na Coluna do jornal A Tarde.
Médico Tiago Fonseca.