Uma descoberta arqueológica foi revelada, no último sábado (16), no solo de Santiago do Iguape, no município de Cachoeira, no Recôncavo Baiano. Na beira do rio Paraguaçu, em cenário histórico fundado pelos jesuítas no século 16, foram encontrados vestígios durante escavações para a construção de uma praça ao lado da Igreja Matriz. A equipe da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder) foi responsável por descobrir um cemitério colonial datado entre os séculos XVII e XIX, com fragmentos humanos e ossadas completas, além de indícios de ocupações ainda mais antigas. Após a descoberta, a obra foi suspensa imediatamente para dar lugar ao trabalho de arqueólogos. Por enquanto, mais de 800 fragmentos e 11 ossadas completas foram encontrados. Assim, conforme o arquiteto da Conder, Olmo Lacerda, todo o cenário da construção foi modificado com os achados da escavação. “Nossa expectativa era seguir com a construção da praça, mas a emergência de um sítio arqueológico tão significativo mudou tudo. Agora, a preservação dos achados é nossa prioridade, e estamos trabalhando em estreita colaboração com os arqueólogos para garantir que cada fragmento seja estudado com o devido cuidado”, relatou. Neste momento, o protocolo de escavação segue as diretrizes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O órgão analisa o impacto arqueológico antes de qualquer obra em áreas de valor histórico, com o intuito de proteger e preservar vestígios culturais. Após a análise inicial, os fragmentos são encaminhados para o Laboratório de Osteoarqueologia da Universidade Federal do Piauí. Neste local, as descobertas passam por testes de DNA e outras análises avançadas para revelar suas origens e datas de sepultamento.
Além das escavações que descobriram fragmentos da história milenar, também surgiram indícios de sambaquis – antigos montes de conchas e restos de alimentos formados por comunidades ribeirinhas. Sambaquis eram populações que dependiam da pesca e da caça, e esta revelação é um importante componente sobre a ocupação pré-histórica do Recôncavo Baiano. Por isso, Bruna Brito, arqueóloga responsável pela escavação, ressalta o “achado inédito” na área. “Os sambaquis, que geralmente são encontrados nas margens de rios e mares, indicam uma ocupação muito mais antiga do que a da colonização portuguesa”, destacou. “O que estamos descobrindo aqui não são apenas vestígios isolados, mas fragmentos de uma identidade mais profunda e complexa. O Recôncavo Baiano, com sua história de resistência cultural, revela agora uma faceta ainda mais rica de seu passado”, completou Bruna sobre os segredos revelados durante as escavações.
Para a comunidade local de Santiago do Iguape, em Cachoeira, os vestígios arqueológicos dizem muito a respeito da descoberta histórica. Um voluntário nas escavações, Maurício Oliveira, descreve a sensação de viver este momento. “Cada fragmento encontrado tem um significado especial. É como se estivéssemos trazendo de volta nossos ancestrais. A sensação de ajudar a preservar a história de quem viveu aqui antes de nós é indescritível”, disse. A Conder promoveu atividades educativas para aprofundar os laços históricos da comunidade com a região. Palestras também foram realizadas nas escolas de Santiago para despertar o interesse dos jovens pela arqueologia. Inclusive, o órgão estadual chegou a oferecer bolsas para estudantes da área.
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