Quinze municípios baianos que escolheram os respectivos prefeitos no último domingo (06/10) tiveram uma disputa apertada e o resultado decidido por menos de 100 votos de diferença. Esse foi o caso de Santa Terezinha, cidade situada no Centro Norte do estado, onde a eleição foi definida por uma distância de apenas quatro votos entre o representante municipal eleito e o segundo candidato mais bem votado. Além dela, os municípios de Manoel Vitorino, Igrapiúna, Itaju da Colônia, Cotegipe e Mulungu do Morro elegeram os prefeitos com diferença inferior a 50 votos. Em Santa Terezinha, o prefeito Agnaldo Andrade (PSD) foi reeleito com 3.883 votos (50,03%), enquanto o candidato Ailton da Bicicleta (PT) foi derrotado com 3.879 votos (49,97%). A cidade, que tem população de 10.441 pessoas, segundo dados do Censo Demográfico 2022 do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), tem como principais fontes de renda a agricultura e o serviço público. Cercado de ambos os lados pelos municípios de Itatim e Castro Alves, que faziam parte do seu território, Santa Terezinha não acompanhou o comércio das vizinhas – que acabaram por se emancipar. Para o morador Daniel Silva, de 25 anos, a possibilidade de conseguir empregos junto à nova prefeitura foi o que levou a população a ficar dividida entre os candidatos do PSD e do PT. “A política aqui é bem acirrada. Faz quatro anos que o prefeito foi decidido por aproximadamente 20 votos. A divisão se dá porque é uma cidade que depende só de prefeitura. Não tem outros recursos, fábricas ou indústria, a renda vem da prefeitura ou da aposentadoria”, explica. O cientista político e professor Cláudio André de Souza observa que as eleições acirradas ao redor do estado refletem a escassez do mercado de trabalho. “Várias cidades baianas não têm uma grande parte da população se ocupando no mercado de trabalho ou têm mercado privado, do ponto de vista de geração de indústrias ou serviços. Então, a prefeitura ganha uma centralidade como o principal mecanismo de ascensão em torno de oportunidades socioeconômicas”, pontua. Ele acrescenta que, diante desse cenário, os grupos políticos, muitas vezes vinculados à figura de famílias, se reproduzem na política durante um longo período, gerando uma previsibilidade que torna as eleições cada vez mais acirradas. Isso é ainda mais forte nas cidades que não têm segundo turno e que, portanto, só tem dois grupos políticos. “Eu entendo que essa pequena diferença de votos tem uma relação intrínseca com um padrão de polarização em cidades menores, abaixo de 20 mil habitantes”, completa. Em Manoel Vitorino, cidade localizada no sudoeste da Bahia, Vinicius Costa (PP) foi eleito com 5.484 votos (49,66%), colocando distância de apenas 26 votos para o candidato Léo da Saúde (PSD), que teve 5.458 votos (49,42%). A cidade, que tem uma extensa Zona Rural e é dividida em distritos, tem economia voltada majoritariamente para a agricultura e ainda sofre com problemas de infraestrutura, com a maior parte do território sem asfaltamento. Apesar dessas questões, o morador e analista de sistemas John Pedro Gonçalves conta que a cidade teve uma eleição concorrida porque contou com o embate entre duas figuras carismáticas. Isso porque o político do PSD tinha pelo menos 20 anos na secretaria de saúde do município e era conhecido pelo povo, enquanto o candidato do PP tinha apelo popular pela relação com Zé Cocá, prefeito eleito de Jequié que já ajudou Manoel Vitorino. Segundo John, por estar tão acirrada, a disputa eleitoral causou medo. “Eu nunca vi uma eleição igual a que teve ontem, com o povo sem adesivo e sem comemorar. Do lado de Léo da Saúde, tinha o medo de perder, enquanto lado de Vinicius Costa tinha o medo de perseguição”, afirma. Gilberto Souza de Jesus, outro morador da cidade, aponta mais um fator para a divisão da população na hora de votar: o apoio do governador Jerônimo Rodrigues (PT) a Léo da Saúde, candidato que foi criticado por muitos residentes de Manoel Vitorino por ser colega de partido do atual prefeito Manoel Silvany Barros (PSD), que não teve uma gestão unânime. “Houve revolta da população que deu a Jerônimo 87% dos votos para governador, para depois ele vir aqui escolher o lado do prefeito atual, que não fez nada durante os últimos três anos e meio de governo e só liberou várias obras faltando menos de um mês para as eleições”, criticou Gilberto. Em Igrapiúna, município situado no Baixo Sul do estado, a eleição para prefeito foi definida por 29 votos de diferença entre o representante municipal reeleito Manoel Ribeiro (AVANTE) com 3.678 votos (50,05%), e a candidata Lorena Leite (PSD), que recebeu 3.649 votos (49,65%). A história por trás da disputa apertada envolve uma rachadura política, que acabou mobilizando a população, segundo conta um professor da cidade. “O resultado das eleições municipais acabou surpreendendo a todos. Havia uma expectativa do atual governo [de Manoel Ribeiro] de uma quantidade de votos muito maior, mas aconteceram algumas coisas que impediram isso. Ainda na pré-campanha, houve uma divisão no grupo de Manoel Ribeiro e um apoiador dele, que já foi prefeito por dois mandatos, se lançou como pré-candidato pelo PT, PCDB e PV”, relata. Um tempo depois da rachadura, o apoiador voltou a integrar o grupo de Manoel Ribeiro, mas nesse período havia uma nova demanda da coligação: a mudança do vice-prefeito Chico Roma, com quem o político do AVANTE conseguiu se eleger em 2020. “Esses acontecimentos produziram questões internas dentro do grupo. Já do outro lado, o grupo da oposição não tinha essas questões e era razoavelmente organizado com algumas figuras, como filhos de ex-presidentes de Câmara e filho de ex-prefeito em Igrapiúna, que conseguiu juntar eleitores e teve um alto financiamento na campanha. Isso influenciou as eleições da cidade”, analisa o professor.
Confira a lista:
1) Santa Terezinha – 4 votos
Agnaldo Andrade (PSD): 50,03% (3.883 votos)
Ailton (PT): 49,97% (3.879 votos)
2) Manoel Vitorino – 26 votos
Vinicius Costa (PP): 49,66% (5.484 votos)
Léo da Saúde (PSD): 49,42% (5.458 votos)
3) Igrapiúna – 29 votos
Manoel Ribeiro (AVANTE): 50,05% (3.678 votos)
Lorena Leite (PSD): 49,65% (3.649 votos)
4) Itaju da Colônia – 34 votos
Elder Fontes (PSD): 50,31% (2.783 votos)
Valério Aguiar (MDB): 49,69% (2.749 votos)
5) Cotegipe – 36 votos
Professora Beatriz (PT): 50,18% (5.154 votos)
Tino (AVANTE): 49,82% (5.118 votos)
6) Mulungu do Morro – 47 votos
Acácio (MDB): 50,25% (4.698 votos)
Edimário Boaventura (PSB): 49,75% (4.651 votos)
7) Pilão Arcado – 51 votos
Leosmir Gama (PT): 49,87% (11.557 votos)
Rogério Luiz (PSD): 49,65% (11.506 votos)
8) Lajedão – 53 votos
Tonzinho (PSD): 50,74% (1.825 votos)
Jader de Zezito (MDB): 49,26% (1.772 votos)
9) Contendas do Sincorá – 58 votos
Didi (AVANTE): 50,71% (2.082 votos)
Margareth Pina (PSD): 49,29% (2.024 votos)
10) Lajedinho – 62 votos
Antonio Mario (PSD): 49,76% (1.555 votos)
Marcos Mota (AVANTE): 47,78% (1.493)
11) Boquira – 68 votos
Alan França (PSB) – 50,26% (6.691 votos)
Patricio Figueiredo (MDB) – 49,74% (6.623 votos)
12) Baixa Grande – 74 votos
Canário (MDB) – 50,31% (6.078 votos)
Israel Piscita (PSD) – 49,69% ( 6.004 votos)
13) Jussiape – 86 votos
Zé Luz (AVANTE): 50,53% (2.995 votos)
Robertão (PSD): 49,08% (2.909 votos)
14) Barrocas – 88 votos
Almir de Maciel (PT) – 50,35% (6.248)
Marlon Nunes (AVANTE) – 49,65% (6.160)
15) Retirolândia – 89 votos
Guene (PSB): 50,4% (5.543 votos)
Nayara de Dió: 49,6% (5.454 votos)