Candidata à vacina contra chikungunya é segura e eficaz com apenas uma dose; imunizante é testado no Brasil

13/06/2023 01:55 • 4m de leitura

A candidata à vacina contra chikungunya produzida pela farmacêutica francesa Valneva produziu resposta imune em 99% dos participantes do primeiro ensaio clínico de fase 3. Os resultados foram publicados na Revista Lancet nesta segunda-feira (12), uma das mais conceituadas na área de ciência e saúde. Esse é o único imunizante contra a doença que está em estágio avançado de desenvolvimento e, em breve, poderá ser o primeiro a ser aprovado pelas agências reguladoras internacionais. Chamada de VLA1553, a vacina foi testada em 4.115 adultos saudáveis em 43 localidades dos Estados Unidos: 3.082 participantes receberam uma dose do imunizante, através de uma injeção no braço, e 1.033 receberam placebo. Todos os participantes foram incluídos na análise de segurança, mas a resposta imune só foi testada em um subgrupo de 362 participantes – 266 receberam a vacina e 96, placebo. Uma única dose da VLA1553 foi considerada segura, bem tolerada e provocou uma resposta imune em 99% dos participantes. Os níveis de anticorpos diminuíram 28 dias depois da aplicação da dose, mas a proteção contra a doença persistiu em mais de 96% dos voluntários após seis meses de vacinação. A maioria dos eventos adversos foram considerados moderados ou leves, como dor de cabeça, fadiga e dor muscular. Apesar dos resultados animadores, os pesquisadores ponderaram que esse ensaio clínico não foi realizado em regiões onde a chikungunya é endêmica, como na África, Ásia e Américas. Isso significa que ainda não há como saber se a vacina é segura e eficaz na população que habita essas regiões e que pode ter uma imunidade pré-existente contra a doença. Mas os cientistas esperam ter essa resposta em breve, pois já há estudos em andamento em áreas onde a chikungunya está mais presente, como é o caso do Brasil. Por aqui, os testes da vacina começaram em fevereiro de 2022 sob coordenação do Instituto Butantan: Os estudos são realizados em centos de pesquisa em 10 cidades: Belo Horizonte (MG), Boa Vista (RR), Campo Grande (MS), Fortaleza (CE), Laranjeiras (SE), Manaus (AM), Recife (PE), Salvador (BA), São José do Rio Preto (SP) e São Paulo (SP). O objetivo é avaliar a segurança e eficácia do imunizante em 750 participantes adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos. O Butantan tem um acordo firmado com a Valneva para desenvolvimento, fabricação e comercialização da vacina contra a chikungunya no Brasil, assim que todos os ensaios clínicos forem concluídos e o imunizante seja aprovado pelas agências reguladoras. “No momento, não há nenhum tratamento dedicado ou vacina disponível contra a chikungunya, que é considerado um dos vírus com maior probabilidade de se espalhar globalmente. Estudos mostraram que as mudanças climáticas estão impulsionando a disseminação dos mosquitos que o transportam para novas áreas do mundo. Portanto, ter uma vacina eficaz é importante para a preparação para futuros surtos”, disse Katrin Dubischar, autora do estudo e diretora da farmacêutica Valneva. A chikungunya apareceu no Brasil há dez anos e, nesse período, se espalhou por todos os estados, atingindo 60% dos municípios brasileiros. O vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, mesmo vetor do vírus da dengue e do zika vírus. A palavra chikungunya significa “aqueles que se dobram”: isso porque um dos principais sintomas da doença é uma dor intensa nas articulações de pés e mãos que, em 50% dos casos, pode persistir por anos. Outra característica é febre acima de 38,5 graus e de início repentino. Desde 2015, o Brasil já registrou mais de 1,1 milhão de casos de chikungunya e 909 mortes. Somente em 2023, foram 110,5 mil casos e 34 mortes, segundo dados do Ministério da Saúde até 19 de maio.

g1*

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