Polícia diz ter apreendido 1 kg de suposto urânio que seria vendido pelo PCC

12/04/2022 12:58 • 4m de leitura

A Polícia Civil apreendeu na última sexta-feira (8) cerca de um quilo de um material ofertado por dois homens como urânio. Os dois suspeitos foram presos em uma casa em Guarulhos, na Grande São Paulo. Eles afirmaram aos policiais que pretendiam fazer a venda por intermédio da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). A defesa deles não havia sido localizada até a publicação desta reportagem. Demerval Rodrigues, coordenador de Segurança Nuclear, Radiológica e Física do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares), disse que amostras do material recolhido pela polícia foram encaminhadas para análise em laboratório. Os resultados podem ser divulgados ainda nesta terça (12). Até a conclusão das análises, o instituto não comentará o caso. Um homem, que afirma trabalhar na área de metais e minerais, procurou o 3º DP de Guarulhos, na sexta, afirmando ter recebido uma proposta para comprar, ilegalmente, “material radioativo”. Durante a conversa, feita via aplicativo de mensagens, o denunciante percebeu que o suposto material oferecido pelos suspeitos seria urânio. O autor da denúncia, cuja profissão e identidade não foram reveladas pela polícia, acrescentou que os suspeitos propuseram vender o material “utilizado para dispositivos bélicos”, de acordo com registros policiais, por US$ 90 mil o quilo (cerca de R$ 422 mil). A dupla, ainda de acordo com a denúncia, afirmou que teria um quilo do produto, disponível como amostra, e que dispunham em estoque de duas toneladas do material. Com base nas informações, dois policiais foram até uma uma casa no bairro Vila Barros, por volta das 14h30, e conversaram com um dos suspeitos, de 34 anos, natural do Acre. O homem, segundo registros do 3º DP, pediu para que os policiais entrassem no imóvel, sem saber que eles eram investigadores, para que vissem a suposta amostra de urânio. Dentro da casa, os policiais encontraram o segundo suspeito, um operador de máquinas de 41 anos, que manuseava pedras “que realmente tinham aparência idêntica ao metal urânio em estado bruto”, afirma trecho do relato dos agentes. Os investigadores encontraram e apreenderam um documento que indicaria a legitimidade do mineral, além de prender os suspeitos. O Ipen foi acionado, para analisar o material. O suspeito de 41 anos relatou, em depoimento, ter trazido o urânio do Acre para São Paulo e que receberia R$ 10 mil pelo serviço. O outro suspeito, de 34 anos, afirmou que o PCC teria financiado sua viagem, de Rondônia até São Paulo, para comercializar o material. Ambos foram presos com base na lei federal 6.453, de outubro de 1977, na qual consta ser proibido “produzir, processar, fornecer ou usar material nuclear sem a necessária autorização ou para fim diverso do permitido em lei”, com pena de 4 a 10 anos de prisão. A Secretaria de Estado da Segurança Pública afirmou, na tarde desta segunda, que o caso seria encaminhado à Justiça Federal. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Justiça Federal afirmou não ter localizado nenhum processo sobre o caso, até a publicação desta reportagem. O Ministério Público Federal também afirmou não ter sido acionado para acompanhar desdobramentos da ocorrência, até o momento. O especialista disse ainda serem remotas as possibilidades de criminosos fazerem eventuais bombas, usando urânio, pelo fato de o processo demandar muito conhecimento técnico, equipamentos específicos, além de quantidade elevada do insumo. Especialista em compostos químicos, Luís Roberto Brudna Hölzle, professor da Unipampa (Universidade Federal do Pampa), do Rio Grande do Sul, afirmou “não ser saudável” manusear urânio, inclusive em estado natural, por não se saber a concentração e provável radiação presente no mineral. Sobre o caso de Guarulhos, ele afirmou só poder comentar após a conclusão dos laudos técnicos, previstos para esta terça, como afirmado à Folha pelo Ipen.
 

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