Mãe do médico Andrade Lopes Santana, 32 anos, Dormitília Lopes diz que perdoou Geraldo Freitas Junior, principal suspeito pela morte do filho, assassinado na Bahia. O corpo de Andrade foi achado na sexta amarrado a uma âncora no Rio Jacuípe, em São Gonçalo dos Campos. Ele foi sepultado na manhã deste sábado em Araci, cidade onde morava. “Quando soube que ele estava desaparecido abri a bíblia e Deus me falou que meu filho não estava mais entre nós, mas estava vivo espiritualmente. Daí, a partir daquele momento, Deus colocou no meu coração o desejo de perdoar. Não consigo ter rancor, ódio e nem desejo de vingança do assassino. Perdoei porque nosso único caminho é perdoar, não existe outro caminho, se você quiser ir para o céu, se não for perdoar”, disse a mãe, conversando com o G1 AC. Geraldo foi preso horas após o corpo ser achado. Ele foi o responsável por registrar a queixa sobre o desaparecimento do amigo em uma delegacia de Feira, mas suas contradições nas conversas com a polícia o colocaram como principal suspeito.
Dormitília veio para a Bahia com alguns parentes assim que o filho desapareceu, para acompanhar a investigação. Ela contou que Andrade se mudou para o estado em 2016, depois de se formar em medicina na Bolívia – o suspeito também estudou lá, segundo informações. Dona Dormitília diz que quando chegou ele a recebeu aparentando estar transtornado. “Ele me abraçou, chorou comigo, dizia que sentia minha dor. Quando chegou algemado na delegacia com um casaco na cabeça eu disse: ‘Júnior, tu matou meu filho, por que fez isso?’ Ele tentou balançar a cabeça com o casaco. Algumas pessoas gritavam ‘assassino’, se a polícia não tivesse lá tinham linchado ele”, conta. A mãe conta que não lembra de ter conhecido Geraldo antes. Andrade morava em Brasileira, no Acre, com a mãe, quando estudava, viajando para as aulas. Depois, a mãe casou novamente e se mudou, sem acompanhar a vinda do filho para a Bahia. “Não gostou quando soube que eu tinha me casado porque o projeto dele era eu cuidar das coisas dele, ser tipo uma assessora. Não queria que eu casasse, queria que eu fosse morar na Bahia”, diz. Andrade esteve no Acre pela última vez em maio de 2019, para o Dia das Mães, quando deu um carro a dona Dormitília. No final daquele ano, ela veio para a Bahia visitar o filho. Desde então, por conta da pandemia, não se encontraram mais pessoalmente. “A gente conversava por mensagem, de vez enquanto nos falávamos, mas não me falou nada desse amigo”, diz.
Enterro – A família queria inicialmente cremar o corpo de Andrade e levar as cinzas para o Acre. Pelo médico ter sido vítima de crime, contudo, ele teve que ser enterrado, e a opção acabou sendo por Araci. Posteriormente, a família vai analisar a possibilidade de levar a ossada para o estado natal do médico. “O corpo não vai mais para Brasileia (no Acre) porque queremos que termine o processo, o assassino é muito experto e pode pedir a exumação e vai prescrever ou outra coisa. Preferimos deixar aqui, uma amiga dele vai cuidar de tudo até dar tempo de levar os ossos dele para o Acre”, diz. A mãe diz que ficou emocionada ao notar o carinho que as pessoas da cidade tinham pelo filho. “”Estou me sentido muito confortável por ver o que meu filho fazia pelos outros. Ele viveu intensamente a vida ajudando o próximo. Você não ouve uma pessoa dizer que ele era ruim, que negou alguma coisa”, diz.(G1-AC)